São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Como analisar a pesquisa considerando a margem de erro

DO DATAFOLHA

As pesquisas eleitorais que utilizam metodologia científica para aferir intenções de voto trabalham dentro de parâmetros estatísticos decorrentes do processo de amostragem. Como não é possível entrevistar o conjunto do eleitorado –o que seria um censo– colhe-se uma amostra de eleitores, assumindo que a mesma será representativa do universo pesquisado dentro de certos limites pré-estabelecidos.
Esses limites são definidos pelos conceitos de intervalo de confiança e margem de erro. O primeiro foi teorizado pelo estatístico Ronald A. Fisher nos anos 20 e o segundo por James R. Newman uma década depois. A partir do tamanho do universo a ser investigado, o pesquisador calcula a amostra que vai colher a partir de uma escolha prévia do intervalo de confiança e da margem de erro que considera aceitáveis para a avaliação do fenômeno que está investigando.
Estatisticamente o eleitorado brasileiro (90 milhões) é considerado uma população infinita, o que exige um desenho amostral de 2.500 entrevistas para se trabalhar com margem de erro de menos ou mais dois pontos percentuais na estimativa de cada candidato, dentro de um intervalo de confiança 95%. Se optássemos por uma margem de menos ou mais três por cento bastariam 1.100 entrevistas/ já para diminuir o erro amostral para menos ou mais um por cento seriam necessárias cerca de dez mil entrevistas devidamente distribuídas pelo conjunto do eleitorado.
Em qualquer caso trata-se de limites plenamente referendados pela comunidade científica para se obter resultados confiáveis em pesquisas sociais por amostragem ("surveys"). Como estão interrelacionados, seria possível ainda aumentar o intervalo de confiança aumentando porém a margem de erro, mantendo-se constante o número de entrevistas.
A taxa de confiança do intervalo é a probabilidade de que uma estimativa qualquer, colhida por amostragem, retrate um valor de fato existente, dentro da variação prevista da margem de erro. Assim, dizer que os resultados das pesquisas eleitorais do Datafolha devem ser analisados considerando-se um intervalo de confiança 95%, significa que, mantidos constantes os demais parâmetros, se fossem feitos 100 levantamentos simultâneos em 95 deles os resultados estariam dentro de margens de menos ou mais dois por cento, decorrentes da relação entre os tamanhos da amostra utilizada e do universo pesquisado.
A margem de erro indica que a variação de uma estimativa entre dois levantamentos, dentro de seus limites, pode não ser expressão de um movimento real, mas apenas uma flutuação decorrente do processo amostral. Assim, para se avaliar se um candidato caiu ou subiu, é necessário adotar os seguintes procedimentos: primeiro, levar em conta sua variação possível em ambos levantamentos; segundo, caso essa comparação não seja conclusiva, levar em conta resultados de levantamentos ainda anteriores, confirmando ou refutando tendências observadas na comparação anterior.
Finalmente, é preciso destrinchar os dados, já que há a possibilidade de que um candidato caia ou suba fortemente em algumas regiões ou segmentos sociais do eleitorado, permanecendo estável em outros, sem que em sua taxa total se note mais que uma pequena flutuação, dentro da margem de erro. Sem isto, uma queda real –ainda que regional ou segmentada– pode permanecer camuflada pelo que parece ser mera oscilação amostral.

Texto Anterior: Saiba como foi feita a pesquisa
Próximo Texto: Itamar pode faltar a Mercosul para ir à posse do presidente colombiano
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.