São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fazenda teme que reajuste afete o plano

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

A equipe econômica considera que o reajuste do funcionalismo público, se concedido agora, será um "tiro no paiol de munições", como definiu um de seus membros, em conversa reservada.
Reunidos com jornalistas ontem, em São Paulo, membros da equipe econômica não conseguiam esconder o constrangimento quando perguntados sobre o tema. A razão é clara: o presidente Itamar Franco deseja conceder o reajuste.
O assunto deve ter uma decisão na segunda-feira, quando o presidente se reunirá com o ministro da Fazenda, Rubens Ricupero.
Há propostas de reajuste de até 29%, o que aumentaria o gasto com salários de R$ 7,5 bilhões anuais. Cerca de R$ 3 bilhões neste ano.
Na conversa formal, os membros da equipe disseram apenas que nada está decidido. O secretário de Política Econômica, Winsto Fritsch, observou que o orçamento do governo prevê déficit zero considerando um gasto de R$ 24 bilhões com salários do funcionalismo, incluindo militares.
Sugeriu que o eventual aumento dessa demanda vai exigir alguma nova fonte de receita ou corte de gastos em outros itens. Mas disse que não há estudos sobre isso.
Na verdade, a equipe considera que o maior problema nem é tanto o gasto, que pode ser escalonado, mas o exemplo. Se o governo, neste momento, conceder um reajuste a seus funcionários, como negá-lo aos demais trabalhadores do país?
O Plano Real determina que reajustes salariais gerais, para toda uma categoria, só podem ser concedidos na data-base e conforme a variação do novo IPC-r.
Se o governo não respeitar essa regra, vai legitimar reivindicações dos demais setores. O funcionalismo tem data-base em janeiro.
Em setembro, ocorrem os dissídios de duas importantes categoria, petroleiros e bancários, ambas vinculadas à CUT, adversária declarada do Plano Real. As categorias incluem grande número de trabalhadores em estatais (Petrobrás e bancos oficiais).
Não haverá como justificar tratamento diferente para funcionários públicos e de estatais.
É ponto de honra para a equipe econômica impedir qualquer volta de indexação. Reajustes salariais fora dos critérios do Plano vão justificar reajustes de preços.
A equipe econômica está sem estratégia de retirada. Sua posição tem sido a mesma: nenhum reajuste é possível neste momento. E o presidente exige algum reajuste.
Assim, qualquer reajuste, mesmo pequeno, será uma derrota para a equipe, atingindo a credibilidade do Plano. Mas o presidente Itamar também não pode sair derrotado.
A paciência e a habilidade do ministro Ricupero estão passando por um teste de vida ou morte.

Texto Anterior: Remarcações elevaram as taxas, diz Ricupero
Próximo Texto: Itamar decide aumento na 2ª
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.