São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 1994
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PT mergulha no impasse e adia decisão sobre Bisol

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O PT não conseguiu resolver ainda o impasse sobre a manutenção ou não da candidatura do senador José Paulo Bisol (PSB-RS) na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva.
A crise paralisou a campanha de Lula. O candidato e a cúpula do PT passaram os dois últimos dias tentando, sem sucesso, resolver o impasse que, sabem, está causando prejuízos à candidatura presidencial.
Depois de um dia inteiro de reuniões, que contaram com a participação de Lula e de Bisol, o comando da campanha petista decidiu remeter a decisão à Frente Brasil Popular, formada pelos partidos que apóiam a candidatura Lula (PT, PC do B, PV, PPS, PSTU e PSB).
Bisol, de acordo com o script ensaiado com os petistas, também deixou a resolução do caso para a frente.
"Pensei em preparar a carta de renúncia, mas assessores e amigos me convenceram que era melhor deixar a critério da frente", afirmou o senador.
O candidato a vice de Lula admitiu a hipótese de deixar a chapa.
"Pegaram a questão dos empréstimos dissociada da realidade da época", afirmou Bisol sobre os empréstimos bancários subsidiados que obteve quando deputado estadual e desembargador no Rio Grande do Sul.
Bisol entende que o "contexto corporativista" da época em que tomou os empréstimos (início da década de 80) justifica sua atitude de aceitar o benefício.
"Não me arrependo, mas, no país que queremos a partir de agora, a situação é outra", disse.
Lula está confuso com o caso Bisol. É aconselhado, pela maioria de seus amigos, a aceitar a degola de Bisol, mas vacila.
Durante o dia de ontem, no entanto, deu sinais a assessores de que concordaria com a saída de Bisol da chapa.
Para protelar a decisão, enquanto se espera por uma solução milagrosa que cause o mal menor, os partidos da frente marcaram uma reunião para ontem à noite, em São Paulo.
Muito provavelmente, aquela reunião não seria conclusiva. Lula sugeriu a convocação de todos os presidentes das legendas que participam da coligação para um encontro hoje.
Trata-se de uma tentativa de extrair o máximo de representatividade e unidade de uma frente que está dividida sobre o caso.
PPS, PV e PSTU já se manifestaram contra a permanência de Bisol na chapa. Mesmo no PSB há divergência (leia reportagem nesta página).
Uma interpretação surgida na cúpula petista é a de que a reunião com a frente poderia permitir que Lula e o PT se "livrassem" de Bisol sem o perigo de passarem uma imagem de desleais com um aliado até há pouco elogiado.
A entrevista concedida por Bisol no início da noite de ontem foi praticamente imposta pela direção petista, que quer mensurar a repercussão da fala de Bisol.
O raciocínio do PT é pragmático: se houver comprovação cientifica (através de pesquisas) de que o episódio está mesmo causando dano eleitoral a Lula, dificilmente Bisol continuará como vice.

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