São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 1994
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Marca alternativa cresce com o real

MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

A concorrência entre os supermercados para trazer o consumidor de volta às compras facilitou a entrada de marcas alternativas.
Desde a virada do mês, nomes pouco conhecidos ocupam espaço maior nas prateleiras e ganham destaque com as promoções.
"As marcas alternativas estão sustentando as promoções", diz Luiz Girotto, diretor do supermercado Bon Marché.
Em sua loja, por exemplo, os embutidos de carne da Sadia, Perdigão e Seara, que ocupavam 80% das prateleiras, hoje respondem por 60% do volume. A participação de marcas menores nesse segmento saltou de 20% para 40%.
No setor de achocolatados, onde a Nestlé estava praticamente sozinha, sua participação recuou para 70% do suprimento da loja, diz Girotto. Em higiene e limpeza, as líderes caíram de 80% para 50%.
Os novos fornecedores minam o terreno da liderança com negociação flexível e preço barato.
Foi exatamente o preço mais em conta que abriu as portas das grandes redes de supermercados para a indústria de embutidos de carne Gaiotto, de Cerquilho (SP), conta Luiz Urso, diretor industrial.
Antes do real, as 12 ton. de salsichas, mortadelas, linguiças e defumados que produz diariamente eram vendidas para mercearias e bares. Hoje 15% da produção estão em supermercados grandes, como Bon Marché e Makro, informa a Gaiotto.
A explicação para o abatimento é o fim da inflação alta. Segundo Urso, ela encarecia o preço na venda com prazos mais longos.
As pequenas empresas ficavam em desvantagem em relação líderes que desovavam a mercadoria rapidamente, aplicavam o dinheiro e podiam dar descontos maiores.
O preço mais em conta também foi decisivo para a Paladar, que beneficia e empacota grãos, farináceos e achocolatados, conquistar 120 novos clientes com o real.
"Não foi preciso nem fazer força", diz Werner Doitschinoff, gerente comercial. Segundo ele, a necessidade de combater os aumentos dos líderes fez o supermercado e o atacado darem ênfase aos produtos alternativos.
Além do preço entre 7% e 8% mais barato, o atendimento personalizado foi a estratégia do arroz Piná para entrar no mercado paulista, depois do real. O produto já estava no Rio e Belo Horizonte.
Segundo Frederico Oliveira, diretor de marketing da Nutril, empresa mineira que beneficia e empacota grãos da marca Piná, os seus vendedores visitam diariamente os supermercados para ter atendimento diferenciado em relação aos líderes de vendas. "Só vai ficar no mercado quem for competitivo", diz.
A perspectiva, na opinião de Doitschinoff, é de que as marcas alternativas aumentem ainda mais sua presença no mercado de agora em diante.
Motivo: a recomposição dos estoques do varejo deve crescer e os supermercados vão ter como preço teto a última compra. Não devem aceitar reajustes para cima que inviabilizem a guerra de promoções.
"A cada plano econômico as marcas alternativas ganham força", afirma Omar Assaf, vice-presidente da Apas (Associação Paulista de Supermercados).
Segundo Girotto, do Bon Marché, os fabricantes tradicionais cobram entre 5% e 8% de juros para pagamento em 30 dias. Na compra de marcas alternativas, o prazo é de 45 dias.
As duas semanas a mais são a carência. Isto é, o tempo que a mercadoria fica na loja para se tornar conhecida, explica Girotto. O prazo mais longo permite ao varejo diluir os juros e dar descontos.

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