São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 1994 |
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Brasil é favorito, diz capitão italiano de 70
HUMBERTO SACCOMANDI
Para Fachetti, 52, o Brasil é favorito nesta final. Mas ele acha que o Brasil de Pelé era infinitamente superior ao de Romário. O italiano criticou a europeização do futebol brasileiro e o nível técnico da Copa. "Se a final será entre seleções tão criticadas em seus países, imagine o resto." Corretor de seguros, Fachetti ainda lamenta a derrota para o Brasil. Ele admira Pelé e Cia., mas põe a culpa no cansaço dos italianos, que jogaram uma prorrogação na semifinal contra a Alemanha. Para ele, o calor deve vitimar novamente os italianos. "Tomara que Parreira mantenha Cafu e Ronaldo no banco." Leia a seguir os melhores trechos da entrevista. Folha – Como está a Itália? Giacinto Fachetti – A Itália está normalmente entre as quatro melhores seleções do mundo. Numa Copa, os três primeiros jogos são sempre os mais difíceis para nós, não sei por quê. O time melhorou só nas quartas. Contra a Bulgária, fez bom primeiro tempo. Folha – Qual o ponto forte? Fachetti – Temos as invenções de Baggio. Ele pode não jogar no mesmo nível os 90 minutos, mas é sempre capaz de aprontar algo. O time soube superar bem os momentos difíceis. E é bem organizado na defesa. Folha – E quais os defeitos? Fachetti – Depende da partida, pois houve vários. O time, porém, tem potencial para jogar como no início contra a Bulgária. Folha – Você esperava ver a Itália na final? Fachetti – Não. Depois das primeiras partidas, então, nunca diria. Foi como em 82, quando ninguém previa a Itália campeã. Folha – Esse time é melhor que o de 82? Fachetti – O de 82, depois da primeira fase ruim, jogou bem todas as partidas. Foi mais contínuo, regular, das oitavas em diante. O deste ano teve dificuldades sempre. Só jogou bem nos primeiros tempos contra Espanha e Bulgária. Talvez por causa do calor, os times não conseguem jogar bem os dois tempos. O Brasil, por exemplo, fez um ótimo segundo tempo contra a Holanda. Mas no primeiro, se não dissessem que era Brasil e Holanda, ninguém perceberia. Folha – O Brasil lhe agrada? Fachetti – Folha – O Brasil nos últimos anos cometeu o erro de tentar se europeizar. Deu que a seleção não é mais 100% brasileira nem é européia. Folha – O que o Brasil deve fazer para vencer a Itália? Fachetti – Bom, mesmo se soubesse, não diria. Vai ser uma partida equilibrada, aberta. O Brasil é um bom time, mas não tem grandes valores individuais. O Costacurta fará falta à Itália, pois é essencial na defesa. E se Baggio não se recuperar, é claro que a balança vai pender a favor do Brasil. E há também o calor. Os brasileiros estão mais acostumados e têm um ritmo de jogo que se adapta melhor com essa clima. Folha – Esse Brasil se compara ao de 70? Fachetti – Nesse Brasil não vejo ainda no ataque um jogador equivalente a um dos cinco do Brasil de 70. Aquele ataque não tem comparação. Romário e Bebeto são bons jogadores na área, mas não me parecem no mesmo valor absoluto de Pelé, Rivelino, Jairzinho, Tostão ou Gérson. Folha – Que lembranças você guarda daquela final? Fachetti – A prorrogação contra a Alemanha acabou com nossas pernas. Quando o Brasil fez 2 a 1, o time não teve força para reagir. Até então havia paridade no placar e em campo. Depois acabou. Além disso, já estávamos contentes por chegar à final. Desde 1938 a Itália não chegava lá. Havia um ambiente de satisfação. O Brasil foi ao México para ganhar. Folha – A Itália podia ter vencido? Fachetti – Se tivéssemos fôlego, teríamos ido à prorrogação. Mas era um grande Brasil. Talvez o último. O de 82 era bom, mas errou ao menosprezar a Itália. Folha – Você tem alguma má lembrança daquela partida? Fachetti – Não, só a derrota. Sempre gostei dos brasileiros, admiro muito o futebol do Brasil. Folha – Que jogador mais o impressionou? Fachetti – Pelé era o melhor, sabemos todos, mas todo o ataque era ótimo. E a defesa tinha ainda Carlos Alberto, o capitão. Folha – Se tivesse de apostar o seu patrimônio na partida de domingo, em quem apostaria? Fachetti – Como ex-capitão, tenho de apostar nos meus. Um capitão nunca abandona o navio. Texto Anterior: Stoichkov pode desfalcar Bulgária na decisão do 3º lugar contra Suécia Índice |
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