São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 1994
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Independentes crescem à margem da mídia

MARCEL PLASSE
DA REPORTAGEM LOCAL

A nova música pop brasileira, representada por Chico Science (Chaos-Sony), Raimundos (Banguela-Warner) e Professor Antena (BMG-Plug), não existe. Quem afirma tem lançado discos que poderiam ganhar esse rótulo há mais de dez anos.
"O que chamam de nova música", diz João Eduardo de Farias Filho, do selo Cogumelo, "é invenção da imprensa e das grandes gravadoras".
Segundo Farias Filho, os selos independentes lançam tendências e artistas novos sem parar, todo o mês. Mas são ignorados pela mídia, que, acusa, "comprou a armação das multinacionais".
Chicão, do selo Devil, faz coro com o proprietário do Cogumelo: "As grandes gravadoras chamam algo de 'nova música' e ganham espaço na mídia. Mas quando os independentes lançam algo realmente novo, ninguém dá atenção. É como se a gente não existisse."
Farias Filho dá um exemplo: "A gente lançou o primeiro disco do grupo Pato Fu e não viu nenhuma matéria na imprensa. Bastou eles assinarem com a BMG para o nome do grupo ser publicado".
Há quem veja essa cooptação de artistas de maneira salutar. Cacá Prates, do selo Radical, acredita que a tendência natural dos selos independentes é servir de fonte para as grandes gravadoras.
"Uma grande gravadora se interessou pelo (rapper) Piveti", conta Prates. "Mas é mais interessante para ela esperar e ver se o artista estourou no selo independente, antes de contratá-lo."
A tendência é esse fluxo aumentar, uma vez que os selos independentes continuam a contratar novos artistas. O caçula RoadRunner, de apenas um ano de idade, contratou, no início do ano, cinco artistas. Mais do que os três anunciados pelo Plug este ano.
Os independentes também entraram com força no setor internacional, que até a década passada era feudo das multinacionais.
O grupo americano Breeders, que figurou nas listas de melhores de 93, saiu no Brasil por meio do selo independente Natasha.
A disputa pelo mercado nem sempre é pacífica. O selo Paradoxx bateu de frente com a Polygram na briga por direitos internacionais.
A Polygram acusou a Paradoxx de pirataria e mandou recolher os discos da gravadora, que tinha contratos legítimos.
"Foi um caso de grande querendo comer o pequeno", acusa Filippo Croso, da Paradoxx.
"Os grandes não precisam ter medo da gente", diz André Muller, do selo Rock It!. "Eles podem acabar com a gente, e não vice-versa."
A maioria dos selos independentes tem acordos com as grandes gravadoras, que detém o monopólio das fábricas de discos e companhias de distribuição.
O mais recente acordo de distribuição foi fechado entre a Warner e o selo Zimbabwe, que estourou com os Racionais. A Zimbabwe pretende expandir sua atuação para o reggae e a música baiana.
Mas nem sempre o acordo com um gigante fonográfico tem resultados positivos.
Pena Schmidt, do selo Tinitus, conta que se viu obrigado a adiar o lançamento de sua segunda fornada de artistas, porque a fábrica da multinacional com quem trabalha colocou o produto independente, sem prioridade, no fim do cronograma de prensagens. (MP)

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