São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 1994
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O real como eleitor

A derrubada da inflação é um poderoso instrumento eleitoral nas mãos dos responsáveis por planos de estabilização. Essa suposição, em parte empírica, em parte amparada em precedentes do próprio Brasil e também de países vizinhos, ganha agora, com as duas mais recentes pesquisas do Datafolha, comprovação estística.
Vê-se, nas pesquisas, um paralelismo quase perfeito entre o aumento do otimismo em relação ao sucesso do Plano Real e o crescimento da candidatura do senador Fernando Henrique Cardoso, que, como ministro da Fazenda, chefiou a equipe que concebeu o plano.
Consequência: cai para praticamente a metade (nove pontos percentuais) a diferença entre o líder da pesquisa, o petista Luiz Inácio Lula da Silva, e FHC, diferença que era de 17 pontos na pesquisa anterior, feita no último dia 5.
De alguma forma, as duas pesquisas permitem deduzir que o eleitor vota pensando na saúde econômica do país. Antes da introdução do real, no final de maio, a maioria relativa dos consultados pela Datafolha (37%) considerava o plano ruim para o país. Agora, passadas duas semanas da adoção da nova moeda, o cenário é radicalmente outro: são 67% os que o definem como bom para o país e apenas 9% o julgam ruim.
A consequência política é decorrência: cresce o candidato identificado com o plano e cai, por extensão, aquele que é visto, justa ou injustamente, como seu adversário. Ao que tudo indica, o caso Bisol teve pouco impacto na pesquisa, uma vez que ela foi feita na segunda-feira, antes de o episódio ganhar maior repercussão.
Na verdade, o único elemento surpreendente na sondagem sobre a intenção de voto é a velocidade da queda de Lula e da subida de FHC. Não entrava em cálculo político algum a hipótese de que, em duas semanas, a distância pudesse se reduzir à metade e que, em um hipotético segundo turno, FHC já estivesse empatado com Lula.
Convém sempre repetir que pesquisas retratam apenas um momento da corrida eleitoral e, portanto, dado algum pode ser tomado como definitivo. De qualquer forma, a pesquisa deixa entrever a persistência de uma bipolarização entre Lula e FHC, que dificilmente será alterada, a menos que surjam fatos novos de grande impacto.

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