São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 1994
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É surpreendente

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – O resultado da pesquisa Datafolha publicada hoje é surpreendente, mostrando o efeito devastador do Plano Real na disputa ao Palácio do Planalto. Agora, Lula está com 34% e Fernando Henrique Cardoso saltou para 25%. Mais revelador: numa projeção do segundo turno, os candidatos estão empatados com 43%.
A tendência era previsível. A cúpula do PT já sabia que o plano iria tirar votos de Lula e nutrir os apoios a FHC. Surpreendente é a rapidez com que cai a diferença entre os dois candidatos. Nem o comando do PSDB imaginava tanta rapidez.
A cúpula dos tucanos calculava que os resultados favoráveis viriam no meio de agosto. Seriam consequência não apenas do plano, mas do horário eleitoral e da ação do PFL no Nordeste, onde Lula exerce extraordinário fascínio.
A pesquisa mostra hoje que a linha de aprovação do Plano Real segue a mesma tendência da linha de FHC. Desta vez, por exemplo, caiu de 43% para 20% quem acredita ter perdido dinheiro com a mudança da moeda.
Com a mudança do humor do brasileiro diante da crise econômica, FHC deu saltos em importantes centros de votos: no Paraná e Minas Gerais está praticamente empatado com Lula.
Até bem pouco tempo, Lula só tinha vento a favor. Disputava sozinho há vários anos. Todos seus adversários eram apenas uma hipótese. A inflação beirava os 50%. Misture-se, aí, a crise social e tem-se abundante matéria-prima para um discurso oposicionista.
O PT passa, agora, a impressão de que não estava preparado para uma eleição mais dura e, complicando ainda mais, encalacrou-se no caso Bisol. O partido entrou na defensiva. E, ao investir atabalhoadamente contra o Plano Real, corre o risco de transmitir a suspeita de que torce contra –o que é capaz de irritar seus eleitores.
Mas ainda tem muito jogo pela frente. A delicada administração do plano econômico e a possibilidade de exploração das alianças sinistras do PSDB são apenas dois fatores capazes de trazer muitas surpresas contra FHC.

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