São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 1994
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Sobre "coisas menores"

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Bem feitas as contas, é mais grave a irregularidade verbal cometida anteontem pelo senador Fernando Henrique Cardoso do que os pecados de que é acusado o senador José Paulo Bisol.
FHC, registra a Folha, considerou "coisas menores" as irregularidades de que Bisol é acusado. Estamos, os eleitores, autorizados a supor que, uma vez entronizado na Presidência, se chegar lá, FHC não se preocupará com:
1 - Emendas de seus correligionários e mesmo adversários que beneficiem os próprios autores, superfaturadas ou não. São "coisas menores". Ou, em outras palavras, o festim orçamentário acaba de ganhar sinal verde de um dos dois principais concorrentes à Presidência da República.
2 - A mamata de empréstimos a determinados segmentos, com juros de pai para filho. Se, como presidente, o senador fechar os olhos à prática dessas "coisas menores", o Banco do Brasil vai se transformar em Casa da Moeda 2.
Bisol, pelo menos, é apenas candidato a vice (por enquanto). Logo, se sua chapa ganhar, as chances que terá de continuar praticando "coisas menores" serão inferiores às "coisas" que se podem passar se o presidente Fernando Henrique Cardoso mantiver os olhos fechados para elas.
Dá até para desconfiar que a frase de FHC é uma espécie de habeas corpus preventivo para seu próprio vice, Guilherme Palmeira (PFL). Mais ou menos como se dissesse: "Se vierem para cima de meu vice, venham devagar, que eu defendi o de vocês, tá?".
Se for isso mesmo, é excesso de zelo. Seu companheiro de partido, o governador cearense Ciro Gomes, já deu a pauta da diferença de dimensão entre denúncias contra Bisol e denúncias contra Palmeira. "Não é do senador Guilherme Palmeira que se espera um comportamento moralista, mas do Bisol, que fez proselitismo na CPI do Orçamento. Contra o PFL já foi dito tudo", afirmou Ciro.
Aparentemente, o governador sabe o que esperar de Palmeira e do PFL. Falta só explicar se espera "tudo" ou apenas as tais "coisas menores".

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