São Paulo, sábado, 16 de julho de 1994
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Bisol acha difícil manter candidatura de vice

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O senador José Paulo Bisol (PSB-RS) não está seguro de que continuará como candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Lula. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida por Bisol à Folha:

Folha - O sr. acha que sua situação é sustentável como vice de Lula?
José Paulo Bisol - A minha preocupação é ajudar o Lula a ser presidente. Para ajudá-lo eu não preciso ser candidato a vice. Eu posso ajudá-lo até não sendo candidato a nenhum cargo.
Agora eu estou sendo alvo de uma campanha de destruição moral inédita na história da imprensa brasileira. Nunca aconteceu nada semelhante.
É claro que, a meu ver, isso pode prejudicar a eleição de Lula, mas quem tem que decidir isso com objetividade é a frente.
Folha - Então o sr. admite que o caso está causando prejuízo à campanha de Lula. Qual seria a melhor solução para esse caso do ponto de vista político?
Bisol - Olha, eu não posso dar essa resposta porque ficaria na dimensão pessoal. Eu acho que isso tem que ser objetivamente decidido pela frente. Essa avaliação tem que ser feita pela frente.
Eu fico diante do processo de desmoralização que está em marcha e da consciência que tenho de que o processo vai prosseguir. Eu fico pensando se não seria mais interessante ser substituído, mas eu estou aí para a luta.
Folha - Existe uma questão política que está sendo colocada como fundamental: se o sr. for mantido na chapa do Lula, ele teria que se explicar a campanha inteira, o sr. tendo razão ou não. O sr. concorda com isso?
Bisol - Concordo sim, só que qualquer que seja o candidato isso vai ser assim, porque a maior parte da imprensa tem lado tomado.
Folha - O sr. acha que a questão se resume somente a uma campanha orquestrada pela imprensa?
Bisol - A imprensa realiza, não é orquestrada. Não é orquestrada pelos jornalistas. É orquestrada pelos donos do Estado brasileiro, quer dizer, pelas mesmas pessoas que estavam por detrás dos senadores e deputados investigados na CPI (do Orçamento).
Folha - O sr. já considera encerrado o episódio, ou ainda admite a possibilidade de que possa haver uma reversão?
Bisol - Em política não há nada sólido, quer dizer, a mudança é rapidíssima e tanto de repente eu posso voltar a ser o grande vice que na proposta inicial estava posta, como pode acontecer de isso se agravar e a questão ser rediscutida.
Folha - O sr. acha que o episódio que o envolveu teve algum peso na queda eleitoral de Lula?
Bisol - Olha é possível e quem sabe até provável que sim, porque já faz muito tempo que essa camcampanha foi desencadeada.
Folha - No episódio das emendas que o sr. apresentou para o município mineiro de Buritis, onde o sr. tem a fazenda, qual o resumo que o sr. faz dessa história? O sr. admite que errou naquele episódio?
Bisol - Não, eu só errei politicamente porque dada a força moral que eu havia adquirido simbolicamente, através da minha ação na CPI do Orçamento eu não deveria ter assinado emenda nenhuma.
Foi um erro irrelevante porque apresentação de emendas não é a mesma coisa do que aprovação e execução de emendas.
Folha - As obras não beneficiariam a sua propriedade?
Bisol - A minha propriedade está na chapada, que é uma região cujo centro de comercialização é Formosa (GO) e Buritis (MG) fica do lado oposto e não tem a quinta parte de capacidade de comercialização que tem Formosa. Nenhuma utilidade teria para mim do ponto de vista geo-econômico.
Folha - O sr. acha que agiu corretamente ao aceitar empréstimos que a maioria da população não teria acesso?
Bisol - Só a formulação dessa pergunta, me desculpe a sinceridade, já é uma coisa a ser interpretada. O PT, o PSB e qualquer associação ou agrupamento ou coletividade brasileira tem funcionários do Banco do Brasil, tem funcionários do Banco Central, tem funcionários da Caixa Econômica, tem funcionários do Ministério Público, tem funcionários da Justiça, tem... em suma, e todos eles tiveram e têm esses empréstimos...
Folha - O sr. teve alguma dúvida ética naquele momento?
Bisol - Não, nenhuma, a questão não estava colocada na época e até hoje esses convênios existem.
Folha - Mas, a ética não é um valor perene?
Bisol - Olha, o fundamento do princípio ético é a universalidade do princípio não é? Que se vale para um tem que valer para todos. É o que está faltando.
Folha - Qual atitude o sr. vai tomar sobre as denúncias?
Bisol - Na parte em que a imprensa foi totalmente mentirosa ou desvirtuou o sentido das coisas, vou fazer as ações que eu imagino que vai de 100 a 150 ações.
Folha - Cem a 150 ações contra a imprensa, senador?
Bisol - Sim.

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