São Paulo, sábado, 16 de julho de 1994
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Que vença o Brasil, o único futebol-espetáculo

JOHAN CRUYFF
ESPECIAL PARA A FOLHA

Que ganhe o Brasil. De forma clara e sem qualquer dúvida. Nunca mostrei tão abertamente minhas preferências, mas agora é diferente. Acho que a seleção brasileira jogou esta Copa contra todos. Só a Holanda, em alguns momentos, aderiu à idéia de ganhar jogando no ataque. De resto, nada.
Muitos zagueiros, só um atacante. Só organização defensiva, muita especulação e muito medo. Por isso desejo a vitória dos brasileiros na final. Eles buscaram a vitória sempre.
Não posso discutir com quem crê que o futebol é apenas assistir a bola chegar. Estes são incapazes de atacar e criar ocasiões de gol. O futebol não é só conservar a bola ou escondê-la. O futebol é manter o controle da bola para buscar o gol. Só o Brasil fez isso. E, por isso, agora que o título está em jogo, quero que ganhe esta opção pelo futebol-espetáculo.
Todos se lembram que a Holanda em 74 ou o Brasil em 82 deram espetáculo, mas acabaram perdendo. Para alguns, isso não serviu para nada.
Discordo totalmente. Na história das Copas, essas duas seleções, derrotadas, são recordadas tanto ou mais que a seleção vitoriosa. E se lembram delas porque ofereceram o melhor futebol e cativaram os que amam este esporte.
Se a Itália conseguir o título, a estatística dirá que venceu em 94, mas a história recordará que o Brasil foi o melhor.
Sei que aos brasileiros não convenceria o título honorífico de ser o melhor e perder a final. Mas, na minha opinião, foi essa obsessão pelo triunfo que fez o Brasil fracassar tantas vezes.
Sou exigente, mas acho que a torcida brasileira exagera. É curioso, mas Carlos Alberto Parreira, criticado antes e durante a Copa, foi quem conseguiu o equilíbrio total nesta seleção. É certo que poderia jogar mais ofensivamente, mais bonito, mas há momentos em que as exibições custam. Neste Brasil talvez falte individualidades. Eu gostava mais do jogo de Zico, Sócrates e Falcão do que do meio-campo atual, mas o sacrifício desses jogadores colocou o Brasil à beira do título.
Se os dois finalistas jogarem como fizeram até agora, não haverá surpresas. As chances italianas se limitam à genialidade de Roberto Baggio, o que não é muito. Quando acabar a força física da Itália, paciência, muita paciência. Os brasileiros não têm de fazer nada especial, só jogar seu futebol. O único futebol da Copa.

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