São Paulo, sábado, 16 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O meu palpite

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Até as pesquisas de julho do Datafolha, o que se tentava adivinhar era se Luiz Inácio Lula da Silva ganharia já no primeiro turno.
Depois delas, já há gente supondo o inverso, ou seja, que Fernando Henrique Cardoso é que pode ganhar no primeiro turno. E, naturalmente, há muito mais gente apostando que FHC já ganhou, nem que seja só no segundo turno.
A velocidade das comunicações e, por extensão, das informações no mundo moderno criou um mercado ansioso por adivinhações desse gênero. Dos jornalistas, então, passou-se a cobrar, ainda mais do que antes, frases definitivas a respeito de quase tudo.
Procuro fugir ao máximo dessa tentação. Aprendi (ao menos isso) que verdades que parecem absolutamente consolidadas são desmentidas pelos fatos com fantástica rapidez.
Devo muito desse aprendizado a Ulysses Guimarães. Não a algo que ele tenha dito, mas a muito do que disseram a respeito dele. Cansei de ler ou ouvir frases do tipo: "Agora, Ulysses está politicamente morto". Suspeito até que eu mesmo escrevi alguma coisa parecida em algum momento. E Ulysses acabou morrendo de morte morrida antes de morrer politicamente.
É em parte por isso que não entrei nem no "Lula já ganhou" nem vou entrar agora no "FHC já ganhou".
A outra parte dessa cautela se deve ao fato de que, cada vez mais, o eleitorado, no Brasil e no resto do mundo, move-se a golpes de manchetes (principalmente dos telejornais). Uma imagem acaba tendo a força de, às vezes, mudar o rumo de uma eleição.
Foi assim, por exemplo, na Espanha no ano passado. O premiê Felipe González perdera o primeiro debate na TV contra seu oponente, José Maria Aznar. No segundo, Aznar repetia sem cessar argumentos clássicos do neoliberalismo até que González cortou-o com uma frase curta e grossa: "É impressionante como o senhor soleniza o óbvio". Pronto. Aznar parecia ter diminuído de tamanho e González ganhou a eleição.
Há ainda 80 dias pela frente para que apareça uma imagem desse tipo, a favor de um ou de outro. Enquanto não surge, palpite até tenho, mas não digo.

Texto Anterior: Urnas descasadas
Próximo Texto: Fernando Henrique virou favorito
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.