São Paulo, sábado, 16 de julho de 1994
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Fernando Henrique virou favorito

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – A pesquisa Datafolha abateu ontem a cúpula do PT –não esperava uma queda tão grande e rápida da diferença entre Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso.
"Tinha muita gente aqui andando de salto alto", admite o assessor de imprensa Ricardo Kotscho. Para estancar a sangria, optou-se por uma ofensiva arriscadíssima. Mas, talvez, seja a única possível.
Uma leitura fria da pesquisa mostra que FHC tornou-se o favorito na disputa presidencial: sua taxa de rejeição diminuiu e a de Lula aumentou. Mantida a atual tendência indicada pelo Datafolha, ele ultrapassaria o candidato do PT na próxima semana, quando feita a projeção sobre o segundo turno. Eles já estão empatados em 43%.
A ofensiva do PT é mobilizar sua ágil e dedicada militância para denunciar por todos os meios o Plano Real. Lula vai intensificar os ataques, batendo numa tecla: o plano "empobreceu" o brasileiro. Através do horário eleitoral, vai tentar provar que os salários receberam um golpe.
É arriscado porque FHC quer caracterizar o PT como o "partido da inflação" –uma jogada capaz de pegar. Segundo o Datafolha, 63% dos eleitores de Lula acham que o plano é bom para o país. E 39% se sentem com mais dinheiro no bolso. Apenas 19% dizem-se mais prejudicados.
O PT dinamita sua imagem caso espalhe a suspeita de que torce pelo pior. Lula sabe disso e quer mostrar a diferença entre preços estáveis e dinheiro no bolso. Ou seja: gosta da inflação baixa, mas não basta: é preciso mais salários.
A ofensiva é de alto risco, mas não há alternativa. Se o PT bate no plano, abre espaço para ser acusado de optar pela tática do "quanto pior, melhor" –o que é péssimo ao eleitor que não suporta mais tanta instabilidade.
Mas se o partido ficar calado, mantém-se paralisado enquanto FHC fatura com a queda da inflação.
PS – Até pouquíssimo tempo, Lula dizia que usaria a tática publicitária da Cola-Cola diante da Pepsi: não responder aos ataques. Repetia que a Cola-Cola nunca perdeu o primeiro lugar. Daí ter recusado participar de debates, fazendo dezenas de exigências.

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