São Paulo, domingo, 17 de julho de 1994
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Estudo critica FMI e Banco Mundial

EVELYN LEOPOLD
DA REUTER

Um novo estudo da Organização das Nações Unidas diz que o Bird (Banco Mundial) e o Fundo Monetário Internacional deveriam tratar das desigualdades econômicas mundiais, em lugar de superestimar seu valor para os países pobres.
"É claro que o Bird fez trabalhos úteis, mas sua realidade não está à altura da mística que o cerca", conclui o relatório, financiado pela Fundação Ford.
O estudo, entitulado "Renovando o Sistema da ONU", foi escrito por Erskine Childers e sir Brian Urquhart, ex-altos funcionários da ONU e autores de livros respeitados sobre a organização.
Ele recomenda grandes reformas em outras estruturas da ONU, entre elas a reunião das agências especializadas num único local, em vez de espalhá-las pelo mundo.
O livro analisa a atuação econômica e social da ONU, dizendo que a organização mundial foi privada de um papel significativo em muitas dessas atividades.
Tanto o Banco Mundial quanto o FMI, nominalmente membros do sistema da ONU, comprometeram-se a coordenar suas atividades com órgãos das Nações Unidas, mas o fazem por acaso e não deliberadamente.
Os autores compararam a recente realização de negociações separadas com El Salvador pelo Banco Mundial e o FMI por um lado e a ONU de outro com a realização de "cirurgias não-relacionadas" num mesmo paciente.
Para solucionar os problemas, o livro faz algumas recomendações.
O secretário-geral Boutros Boutros-Ghali deveria organizar especialistas para que façam propostas sobre o Banco Mundial e o FMI quando vários chefes de Estado se reunirem no ano que vem para celebrar o 50º aniversário da ONU.
A ONU deveria considerar a possibilidade de estabelecer seu próprio banco, não comercial, para complementar empréstimos concedidos a países em vias de desenvolvimento pelo Banco Mundial.
O Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comércio), que segundo os autores nega a muitos Estados uma justa participação no comércio mundial, deveria ser substituído por uma genuína Organização Internacional de Comércio que inclua todos os países do mundo.
Os autores alegam que, no mínimo, o FMI deveria cumprir seu autoproclamado papel de esboçar estratégias macroeconômicas.
"Enquanto se negou à ONU seu papel de elaboração de estratégias macroeconômicas equitativas, tais estratégias tampouco vêm sendo formuladas pelo FMI", dizem eles. "A experiência tem sido desastrosa para a maioria dos países em vias de desenvolvimento."
Em 1990 houve um superávit global de US$ 180 bilhões, enquanto a dívida dos países em vias de desenvolvimento era oito vezes maior. Mas, segundo Childers e Urquhart, o FMI não fez nenhuma tentativa de remediar a situação.
A maior parte do superávit dirigiu-se aos mercados de capital privado dos países ricos, enquanto o Banco Mundial recebia US$ 1,7 bilhão em juros e das dívidas de países pobres.
Quanto ao FMI, suas políticas de ajustes estruturais têm "desfeito trabalho árduo realizado pela ONU nos campos da saúde e educação pública", dizem os autores.
"Na verdade, todas as intenções originais do FMI de assistir países-membros da ONU desapareceram há muito tempo."
O livro diz que o Banco Mundial anuncia abertamente sua liderança intelectual, mas que na realidade muitas vezes segue "as sucessivas ondas de novas panacéias desenvolvimentistas que chegam aos países em vias de desenvolvimento, dentro de pacotes vindos de países do Hemisfério Norte".
"E apesar das autoridades competentes virem pedindo há muitos anos que se conceda mais empréstimos de pequena escala, o Banco Mundial tem sempre optado pelo gigantismo", diz o relatório.
Em vez disso, segundo os autores, o banco deveria passar pelo mesmo exame que outros órgãos da ONU e coordenar suas políticas desenvolvimentistas com as principais agências da organização.

Tradução de Clara Allain

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