São Paulo, domingo, 17 de julho de 1994
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Pós-guerra acentuou domínio dos EUA

JOSÉ ROBERTO CAMPOS
DA REDAÇÃO

O sistema de Bretton Woods era um retrato do mundo ao fim da 2ª Guerra. Europa e Japão estavam devastados. Livres do conflito, temiam a expansão do comunismo e a única potência em condições de empurrar suas economias e barrar a URSS eram os EUA.
Após a conferência, o mundo dependia de ouro e dólares. Cerca de 60% das reservas de ouro estavam nos cofres do Tesouro dos EUA. Para obter dólares, os demais países dependiam ou de exportações ou de empréstimos.
A primeira condição não existia porque esses países estavam com suas economias destruídas.
A segunda condição foi amplamente suprida pelos EUA, mas não nos quadros do que havia sido estipulado em Bretton Woods.
Em julho de 1947, George Marshall, secretário do Tesouro dos EUA, lançou o amplo programa de reconstrução da Europa que levaria seu nome. Para terem a quem vender mercadorias, os países precisavam reerguer-se.
Um dos problemas do recém-criado sistema monetário internacional –na verdade, seu próprio princípio de funcionamento– começava a se tornar claro.
Em 1950, o balanço de pagamentos norte-americano –resultado de exportações e movimento de capitais, empréstimos e transferências– apresentou déficit.
Saíam dólares mais velozmente dos EUA para a Europa e Japão do que a rapidez de recuperação desses países permitia contabilizar como vendas norte-americanas e investimentos deles nos EUA. Para acelerar essa recuperação, os EUA toleravam também uma série de práticas comerciais restritivas.
A conclusão é que a recuperação do pós-guerra dependia dos déficits norte-americanos –em suma, da capacidade do governo dos EUA de imprimir dólares.
Pelas regras de Bretton Woods, isso tinha um limite –a capacidade das reservas em ouro dos EUA de garantirem aos bancos centrais de outros países a conversão, quando eles precisassem, de seus dólares em metal.
O alarme tocou no início dos anos 60. A reserva de ouro dos EUA era menor que o volume de dólares em circulação fora do país. Europa e Japão viviam booms de crescimento, se fechavam a mercadorias dos EUA e viravam concorrentes do antigo tutor.
Os EUA também arcavam com o grosso das despesas da "segurança do mundo livre". Participaram da guerra da Coréia, mantinham tropas nos principais pontos de conflitos potenciais e estavam prestes a se envolver na longa e desastrosa aventura do Vietnã.
Nas eleições presidenciais de 1960, com a chance de o democrata John Kennedy vencer o republicano Richard Nixon, os investidores internacionais ensaiaram uma corrida ao ouro, vendendo dólares.
Esboçava-se o caminho que levaria Nixon, 11 anos depois, a suspender a conversibilidade do dólar.

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sobre Bretton Woods na pág. 3-3.

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