São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 1994
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Projeto de lei prevê TV a cabo estatal

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de três anos de discussão, o Congresso Nacional votará, em regime de urgência, o projeto de lei para implantação da TV a cabo no Brasil.
O texto do projeto, recém-concluído pelo deputado Koyu Iha (PSDB-SP) para ser votado em agosto, permite que as companhias telefônicas estatais se tornem operadoras de TV, onde não houver interesse de participação do setor privado.
A abertura para um novo avanço estatal no setor está expressa, de forma indireta, no artigo 15 do projeto de lei.
O artigo diz: "As concessionárias de telecomunicações somente serão autorizadas a operar serviço de TV a cabo na hipótese de desinteresse manifesto de empresas privadas, caracterizado pela ausência de resposta a edital relativo a determinada área de prestação de serviço."
Como o mercado potencial de TV a cabo no Brasil é apontado como um dos melhores do mundo, a brecha prevista na lei traz mais um agravante: a estatais ocupariam as regiões deficitárias, desprezadas pelo setor privado.
Estudo feito no ano passado pela Communication Concepts do Brasil, empresa de consultoria em TV por assinatura, diz que o país tem um potencial atual de 5,68 milhões de assinantes de TV a cabo, com perspectiva de crescimento de 4% por ano.
Significa uma receita em assinaturas da ordem de US$ 2,3 bilhões por ano ou dois terços de todo o potencial de mercado da América Latina, segundo afirma Jonathan Baker, dirigente da empresa.
O deputado Koyu Iha diz que o artigo 15 não lhe agrada, mas é importante para aprovação do projeto em plenário, em função dos lobbies sindical e estatal.
O presidente da Telebrás, brigadeiro Adyr Silva, diz que a abertura para a criação de TVs a cabo estatais é uma "aberração", uma "anomalia que precisa ser extirpada do projeto de lei'.
Adyr Silva diz que se o Congresso mantiver o artigo 15 durante a votação do projeto, a Telebrás, como empresa-mãe das 27 telefônicas do governo federal, não vai permitir que elas entrem no mercado.
"TV a cabo é entretenimento e não tem nada a ver com a função social de uma telefônica pública", diz o brigadeiro.
koyu Iha disse que o artigo já fazia parte da primeira versão do projeto de lei, preparada pelo deputado Tilden Santiago (PT-MG), em 91.
Reserva de mercado
O projeto de lei contém um outro ponto crítico: ele induz à concentração de mercado. O artigo 14 diz que haverá apenas uma concessão para cada área de prestação de serviço de TV a cabo.
O texto diz que só "excepcionalmente" poderá ser dada mais de uma concessão para uma mesma área, mesmo assim, condicionada a critérios a serem definidos pelo Poder Executivo.
As concessões, de acordo com o texto do relator Koyu Iha, serão por 15 anos, renováveis por períodos sucessivos e iguais.
Depois de aprovada a lei, o governo lançará editais de concorrências para distribuição das concessões.
Conflito de interesses
A discussão no Congresso se arrastou devido, sobretudo, ao conflito de interesses entre as estatais de telecomunicação e setor privado.
Elas viam os cabos das TVs como ameaça porque, tecnicamente, eles também podem transmitir dados e telefonia.
Ocorre que, nestes três anos, as concessionárias instalaram cabos em várias cidades e acabaram por concluir que o investimento é muito pesado.
No projeto, estatais e operadoras privadas chegaram a um meio-termo: as operadoras poderão ter redes locais, mas os cabos que fazem a interligação serão do Sistema Telebrás.

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