São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Um título em gotas de suor e angústia

ALBERTO HELENA JR.

Um título ganho em gotas de suor e angústia
Em Los Angeles
Sofremos até a última gota, mas valeu. Pelo menos, o Brasil é o primeiro tetracampeão do mundo da história, mesmo que o futebol que o conduziu ao título seja o anti-Brasil.
Mesmo porque o adversário de ontem –a Itália– entrou em campo estropiada, com suas duas maiores estrelas, Baresi e Baggio, sem condições de jogo e adotando o mesmo princípio do time de Parreira: o gol seria um acidente de percurso; o fundamental era não tomá-lo.
A partir daí, a bola ficou rondando o círculo central a maior parte do tempo. Apesar disso, a primeira grande chance do jogo foi da Itália, com Massaro surgindo na cara de Taffarel, após falha de Mauro Silva. Taffarel, que, aliás, cumpriu uma partida impecável, defendeu com os pés.
E, para piorar a situação, aos 26 minutos, perdemos Jorginho, machucado. Ou pra melhorar, embora nas primeiras participações Cafu tenha feito três bobagens seguidas. Depois, ajustou-se ao tempo do jogo e acabou servindo por duas vezes os nossos atacantes em situação primorosa de gol.
Bem, o fato é que assim foi a coisa pelo segundo tempo afora também, a não ser quando Mauro Silva disparou uma bola venenosa de fora da área, que Pagliuca tentou pegar como se cerca um frango, ela escapou, ricocheteou na trave e voltou aos seus braços. Um chute aqui de Donadoni, outro de Baggio, uma cabeçada de Romário, e vamos em frente, nesta tediosa trama que só podia ter um final: a disputa nos pênaltis.
Ah, sim, antes disso, fez-se uma réstia de luz em campo, quando, já no segundo tempo da prorrogação, Parreira ousou tirar Zinho e colocar Viola em seu lugar. Em quinze minutos, Viola jogou mais, agrediu mais, criou mais do que Zinho ao longo de todo o campeonato.
Mas Viola não é Pelé, e fomos para os pênaltis, que está-se transformando no martírio dos craques. Ontem, os escolhidos foram exatamente os dois craques da Itália, que entraram no sacrifício da decisão: Baresi e Baggio. Ambos chutaram por cima, enquanto Massaro bateu em cima de Taffarel. Como havíamos perdido um com Mário Santos, deu 3 a 2. Somos tetras, afinal.
No ritmo que escolhemos. Bem que poderíamos ter ousado mais. Quem sabe Viola entrando no segundo tempo do jogo, coisas desse tipo. Mas, nunca. Estava escrito que assim seria: um título ganho gota a gota de suor dos jogadores, gota a gota de nossa angústia.

Texto Anterior: Jogadores dedicam o tetra a Ayrton Senna
Próximo Texto: Seleção campeã começa volta hoje às 20h
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.