São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 1994
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Dois veteranos 'selam' a derrota italiana

SÍLVIO LANCELLOTTI
ENVIADO ESPECIAL A PASADENA

Coube aos dois grandes heróis da Itália 'selar' o seu destino no Mundial dos EUA. Franco Baresi e Roberto Baggio desperdiçaram os penais que definiram a decisão da Copa, o quarto título do Brasil.
Como homens e como jogadores, eles não mereciam tal desfecho. Mais justo, para ambos particularmente, seria a "Squadra Azzurra" perder em plena guerra, no curso do tempo normal do prélio ou da sua prorrogação.
Baresi e Baggio não viveriam individualmente o seu drama, o seu constrangimento, o seu azar.
Convalescente de uma cirurgia de joelho, realizada no dia 26 de junho, Baresi ao menos se inscreveu na antologia da competição com um recorde –se tornou o primeiro atleta na história do Mundial a retornar à disputa do mesmo torneio depois de uma operação.
Baggio nem deveria entrar. Na peleja semifinal, diante da Bulgária, sofreu uma mistura de distensão muscular e de pancada na sua coxa direita.
Por quatro dias se esfalfou na batalha pela recuperação, aplicações de gelo, de calor, de raios laser e de massagens, a ponto de não dormir mais de quatro horas a cada noite.
Baresi e Baggio, no entanto, correram os seus riscos conscientes.
Arrigo Sacchi, o mister da "Squadra Azzurra", armou a sua equipe com uma única intenção –e conseguiu realizá-la.
Chefe de um elenco dizimado por sucessivas contusões, além da suspensão do ótimo zagueiro Costacurta, foi ao Rose Bowl determinado exclusivamente a conter a ofensiva do Brasil e a tentar um gol, ainda que fortuito, no contra-ataque em velocidade.
Mas Sacchi levou um grande susto aos 33min da etapa inicial, quando o lateral Roberto Mussi se contundiu.
Queimou uma substituição e ainda se obrigou a colocar em campo o pesado Gigi Apolloni.
Numa só troca, o mister modificou três posições. Antonio Benarrivo se deslocou ao flanco antes ocupado por Mussi. Paolo Maldini se transferiu ao lugar de Benarrivo. Apolloni virou central, na parceria de Baresi. Um risco gigantesco.
Porém, Apolloni teve uma grande atuação. E a seleção da Itália até mesmo se fechou melhor à frente da sua área.
Segurou o ímpeto do Brasil. Anulou Bebeto e controlou Romário.
O contra-ataque não surgiu, contudo, por causa da fragilidade da armação de jogo da "Azzurra". Na sua linha intermediária, apenas Roberto Donadoni se comportou com vivacidade e inteligência.
Devastados por uma semana inteira de dores nas pernas, Demétrio Albertini e Dino Baggio mal apareceram no combate.
À frente então se isolaram Massaro e Roberto Baggio, que ainda produziu metade dos seis arremates de uma equipe francamente superada pelas 22 finalizações do Brasil.
Uma "Azzurra" apenas de prata, mas uma seleção capaz de exibir na América uma bravura rara e inesquecível.

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