São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 1994 |
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Que a taça carregue junto a auto-estima
MATINAS SUZUKI JR.
Ontem, Dunga foi o quarto brasileiro a erguer a taça de campeão da Copa, a única conquista que, até hoje, realmente interessa para o brasileiro. Algo mudou no Brasil de 1990 para o Brasil de 1994? Não creio que muita coisa, no fundamental, mudou. Mas a conquista de ontem pode ajudar a mudar. Talvez a grande contribuição da seleção brasileira –e a isto se deve agradecer a Carlos Alberto Parreira e a Romário– é a de devolver um pouco de auto-estima a uma nação carente. Eu já escrevi aqui que toda a história de um país conta na cobrança de um pênalti. Os brasileiros estavam com esta determinação na consciência. Era mais forte do que a necessidade dos italianos. Em uma disputa de pênalti –ainda mais sendo a primeira que decide uma Copa do Mundo, com tetra em jogo– os milênios de cultura, de sentimentos frustrados, de perspectiva histórica contam mais do que a técnica. O caso de Franco Baresi, o grande capitão italiano, ontem foi exemplar. Ele, que veio da enfermaria para o jogo, foi um gigante, um leão –aliás como tem sido em toda a sua carreira vitoriosa. Pela segunda vez neste ano, em uma decisão importante, marcou o Romário e marcou implacavelmente. Não deixou Romário jogar e não deixou Romário marcar um golzinho fatal sequer. Vem o pênalti. Lá vai o leão, símbolo absoluto de dedicação a uma camisa. Toda a Itália estava com os olhos nele. E ele cobra como um jogador qualquer, e não o melhor da histórica decisão. Um erro fatal, um chute, um segundo que separou a glória do fim abissal. Pela segunda vez os dois times se encontraram em uma final, pela segunda vez o capitão brasileiro ergueu a taça. Carlos Alberto Parreira não prometeu brilho. Prometeu a vitória. Montou um time para isto. Conseguiu o seu objetivo. Merece ser saudado por isto. Os jogadores mais criticados –Taffarel, Branco, Dunga, principalmente– se concentraram no torneio e mostraram que estavam com o claro objetivo de se consagrar com o título e não nos jogos. Romário mostrou que é mesmo o melhor do mundo. Não foi tão bem no jogo, mas, mesmo sem ser um especialista, cobrou muito bem o seu pênalti. Foi o grande diferencial do Brasil. O trabalho de Moraci Sant'Anna precisa ser lembrado. Foi fundamental. O Brasil teve o melhor preparo físico da Copa. Chegou ao fim inteiro. O trabalho psicológico também foi muito bom. A seleção brasileira teve apenas Leonardo suspenso em todo o Mundial. Todos estes detalhes ajudaram –e muito– na decisão final. Foi uma vitória que é a cara do Brasil atual. Um país que também está decidindo o seu destino nos pênaltis. E no qual ainda cabem esperanças e alegrias. Adeus, América, que o samba mandou me chamar. Texto Anterior: A COPA É DO BRASIL Próximo Texto: Uma final sem gol é o pior espetáculo Índice |
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