São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 1994
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Meredith Monk faz workshop no palco do Auditório Cláudio Santoro

LUÍS ANTÔNIO GIRON
ENVIADO ESPECIAL A CAMPOS DO JORDÃO

A compositora e cantora Meredith Monk fez seu show na última quinta-feira no Auditório Cláudio Santoro. Foi a estréia no Brasil de uma artista que já deveria ter vindo bem antes. Em 1983, a platéia estaria cheia. Na quinta não enchia dois terços do auditório, que tem capacidade para 950 pessoas.
Como sempre, os bolsistas fizeram o papel simultâneo de claque e maioria. Eles combinam produzir barulhos em todas as palmas. Deveriam ser isolados em local à prova de som. A produção do evento pode providenciar uma bolha de plástico para quando eles se apresentarem no encerramento.
O clima de "petit comité" até combina com o show intimista de Meredith. Mas o tamanho do auditório não deixou isso acontecer. A primeira parte foi tirada de "Songs from the Hill" (1977): uma sequência de 12 estudos para voz a capela. Com voz de soprano e o alcance de três oitavas, ela desenrolou uma espécie de léxico imitativo. Cada canção representa um objeto ou situação da natureza, repetidos com economia.
No mesmo andamento com que gorjeava, grunhia ou produzia saltos do grave ao agudo, Meredith ia formando gestos e expressões.
Acompanhou-se ao piano na segunda parte. Mostrou peças dos discos "Atlas" (1993) e "Dolmen Music" (1981) e da trilha sonora do filme "Book of Hours".
Ela elabora uma nova técnica particular, baseada na contraposição de som e ruído, notas definidas e cliques. As palavras são escassas e figuram no canto como elemento sonoro.
Ainda assim, Meredith agiu como se desse uma aula. Conversou com o público, explicou cada obra e traduziu para o português todos os títulos. Teve a delicadeza de verter para o portugês a canção "The Tale" (O Conto), tirada do cultuado "Dolmen Music". A letra ficou assim, caetanesca (ela admira o músico baiano) e irônica: "Ainda tenho meu anel de ouro/ Eu adoro, eu adoro. Ainda tenho minhas alergias/ Ainda tenho minha filosofia". Esta é a prova cabal de que o código verbal dá a última palavra em sua música.
Apesar de negar, Meredith é minimalista, talvez a compositora mais radicamente minimalista. Individualista, solipsista, não parece afeita às modas. Nunca alterou uma semicolcheia em 30 anos de filosofias e alergias.

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