São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 1994
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Joshua Redman vem com novo álbum

CARLOS CALADO
ENVIADO ESPECIAL A MONTREUX

Ele foi uma das estrelas do Festival de Montreux, que terminou anteontem, na Suíça. Joshua Redman é atração confirmada para o 9º Free Jazz Festival, marcado para outubro, no Rio e em São Paulo.
Considerado a grande revelação do jazz nos últimos anos, o saxofonista norte-americano está pilotando uma carreira meteórica. Seus dois álbuns –"Joshua Redman" e "Wish", lançados em 93 pela Warner– foram elogiadíssimos pela crítica e se deram muito bem nas vendas.
O especial talento de Joshua não deixa de ter uma relação genética. Apesar de ter sido criado pela mãe, uma bailarina radicada na Califórnia, ele é filho do original saxofonista Dewey Redman, ex-parceiro de Ornette Coleman.
Bem mais articulado que os músicos de sua geração, Joshua tinha outras pretensões antes de se decidir pela música. É formado em Estudos Sociais e chegou até a se inscrever no curso de Direito, em Yale.
Joshua Redman falou com exclusividade à Folha, antes de sua badalada apresentação em Montreux, como convidado especial no concerto do trompetista Roy Hargrove. A seguir, trechos da entrevista:

Folha - Aos 24 anos, você conseguiu realizar o sonho de todo músico iniciante: se tornar conhecido mundialmente. Como você está lidando com essa mudança tão rápida?
Joshua Redman - Bem, tento não me envolver muito com isso. O meu foco está voltado para a música. Só comecei a levar a carreira musical a sério há três anos, quando mudei para Nova York. Eu realmente me considero um iniciante ainda e tento me concentrar o máximo no desenvolvimento da minha educação musical. Claro que toda essa publicidade e o "hype" da mídia interferem, mas faço o que posso para que essas coisas não me perturbem.
Folha - Você já provou que esse não é seu caso, mas o que você acha dessa tendência do mercado musical de promover mais os artistas jovens, em muitos casos ainda bastante imaturos, do que os mais experientes?
Redman - Há muita coisa nesse mercado que realmente não tem nada a ver com a música. Nos últimos anos, idade tem sido um fator de prestígio. Isso é muito ruim, porque a música não tem sido governada apenas pela arte, mas sim pelo dinheiro. Infelizmente, as companhias de discos acham que as pessoas vão pagar para ver uma certa imagem musical. Mas eu acho que isso está mudando nos últimos tempos e a qualidade está voltando a ser levada em consideração.
Folha - Você não fica meio apavorado com a possibilidade de não conseguir preencher as expectativas do público e da crítica?
Redman - Para ser sincero, não me preocupo muito com essas expectativas, até porque eu sou meu pior crítico. Claro que eu respeito o que as pessoas, outros músicos ou os críticos podem pensar sobre mim, mas não vou permitir que essas expectativas governem o que eu faço como músico. Eu não estaria sendo honesto como músico.
Folha - Você já tem alguma idéia sobre suas apresentações no Brasil?
Redman - Com certeza vou levar meu quarteto acústico, que inclui piano, baixo e bateria. Meu novo álbum vai sair em setembro e assim estarei tocando minhas novas composições, além de temas de meus discos anteriores e alguns "standards".
Folha - Como jazzista, o que você acha dessa recente fusão do jazz com o rap?
Redman - Acho ótima. Qualquer música boa pode ser combinada, não importa qual. Isso vale para qualquer estilo: há rock bom e rock ruim, há bom soul e soul ruim, bom jazz e jazz ruim. O que está acontecendo hoje nessa área é muito excitante.
Folha - Você se sentiria confortável num projeto com esse tipo de fusão?
Redman - Na verdade, já tenho feito algumas coisas esporádicas. Uma foi no disco de Me'Shell Ndegeocello, com quem eu toquei uma espécie de jazz-funk. Outra vez foi com os produtores do US3, que estão preparando um disco com os músicos do grupo. Eu realmente adoraria fazer mais coisas assim. Afinal, eu faço parte da geração do hip hop.
Folha - Em que outros projetos você anda envolvido atualmente?
Redman - Tenho acompanhado vários músicos, como Pat Metheny, Charlie Haden, Jack DeJohnette, Elvin Jones, Milt Jackson e meu pai. Eu gostaria de continuar fazendo esse trabalho, mas acho que daqui para a frente devo me concentrar mais em meu grupo. Está na hora de eu me afirmar como líder. Agora, além de meu saxofone e minhas composições, tenho meu quarteto. Sinto que isso vai ajudar a definir de vez minha voz musical.

O jornalista CARLOS CALADO viaja a convite da Warner e da Polygram

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