São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 1994
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Vitória

O Brasil é novamente campeão mundial de futebol, depois de 24 anos de espera. É também o primeiro país a conquistar o título pela quarta vez. Evidentemente, a conquista não muda em nada a situação objetiva do país, mas é importante para a auto-estima dos brasileiros, que nas últimas décadas foi posta à prova à exaustão.
À parte os condenáveis exageros, a euforia que toma conta da população é justificável. Afinal, o futebol é uma das poucas expressões culturais genuinamente populares do país. Mesmo nos momentos em que a seleção perdeu a hegemonia no âmbito internacional, esse esporte continuou atraindo semanalmente multidões aos estádios.
Muito se falou nos últimos tempos sobre o eventual uso político das vitórias futebolísticas. As circunstâncias que cercaram a conquista de 1970 justificaram muitas das apreensões acerca desse tipo de distorção. Mas o país vivia na época sob uma ditadura, que procurou capitalizar a vitória no México para esconder os aspectos mais escuros do regime. A vitória de ontem encontrou um país bastante mudado. Nos últimos dez anos, o exercício da democracia, com todos os seus percalços, certamente tornou mais maduros os cidadãos, dificultando a manipulação política dos triunfos esportivos.
Nesses 24 anos, por outro lado, o futebol internacionalizou-se extraordinariamente, acompanhando as tendências predominantes na economia mundial. O avanço das transmissões de TV e o crescente papel da publicidade têm feito do futebol um imenso negócio, que mobiliza milhões de dólares em quase todo o mundo.
Se ninguém discute que, mesmo nesse quarto de século de jejum de títulos, o Brasil sempre esteve entre os países que melhor praticam o futebol, no aspecto da modernização das estruturas o país ainda tem muito o que avançar. Campeonatos deficitários, calendários confusos e baixa competitividade no mercado internacional –razão que leva muitos jogadores ao exterior– são alguns dos problemas crônicos ligados à estrutura ainda arcaica do futebol no país. Cabe esperar que a atual conquista sirva de impulso para uma mudança modernizadora no setor. Que os cartolas, em suma, aprendam com os jogadores a adaptar-se ao futebol moderno.

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