São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 1994
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A SBPC

Começou ontem em Vitória (ES) mais uma reunião da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). Desta vez, os cientistas pretendem discutir um tema bastante universal e atual, a ética, e debater propostas para tentar melhorar os níveis educaionais no Brasil –nada mais oportuno.
Um fantasma porém ronda o encontro. Há informações de que a reunião poderá tornar-se uma espécie de palanque em que se digladiarão os cientistas que apóiam a candidatura de seu par Fernando Henrique Cardoso e os que são favoráveis a Luiz Inácio Lula da Silva.
É evidente que não se pode nem se deve esperar dos cientistas que não tenham, como cidadãos, suas opções políticas. Também seria ingênuo acreditar que a ciência é ou deva ser neutra e que os cientistas, portanto, na condição de homens de ciência, deveriam abster-se de todo engajamento político.
Ao contrário até, é inegável que a SBPC desenvolveu um importante trabalho político durante os anos do regime militar. Naqueles idos, o fórum anual dos cientistas era um dos poucos espaços nos quais ainda se podia esboçar uma resistência, mesmo que apenas teórica, aos desmandos do sistema. E isso foi sem dúvida bom para o país.
Resta esperar que, numa situação de normalidade democrática, o debate político não anule o científico numa reunião que, em tese, serve para que haja a troca de informações e experiências dos homens de ciência de todo o país e em todos os campos, inclusive, naturalmente, o político.
É óbvio que sociólogos, filósofos, historiadores e outros devem debater temas atuais e eventualmente polêmicos como as próximas eleições. Mas é importante que essa discussão ocorra dentro dos moldes do que deveria ser um debate acadêmico de alto nível, sem paixões desenfreadas.
Direito a uma opção política obviamente todos têm, mas é de se esperar dos cientistas brasileiros que eles saibam manter seu encontro anual num alto nível, compatível com o de seus participantes.

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