São Paulo, terça-feira, 19 de julho de 1994
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Nova explosão brilha mais do que Júpiter

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Um dos maiores fragmentos do cometa Shoemaker-Levy 9 caiu ontem na superfície do planeta Júpiter e causou a maior explosão planetária já observada.
Alguns dos instrumentos científicos de observação foram ofuscados pela explosão, que surpreendeu os cientistas pela intensidade.
O chamado fragmento G do cometa caiu na parte oculta de Júpiter e explodiu em uma enorme bola de fogo que durante momentos brilhou mais do que todo o planeta. Outra grande explosão aconteceu depois com a queda do fragmento H, quase tão grande quanto o G.
Eugene Shoemaker, cientista do Instituto Geológico dos EUA e co-descobridor do cometa, calculou que a energia liberada pelo fragmento G foi equivalente a explosão de 250 milhões de megatoneladas de dinamite e gerou temperaturas superiores a 16.600 graus Celsius.
"A liberação de energia supera em muito nossas experiências na Terra", disse Lucy McFadden, astrônoma da Universidade de Maryland.
"Na Terra, a energia total que podemos gerar com bombas alcança dez mil megatoneladas."
Quando a primeira imagem da colisão chegou às telas do observatório de La Silla, no Chile, os astrônomos acharam que havia algum erro.
"Nós pensamos que estávamos fazendo algo errado. Nós achamos que aquilo não era possível, estava brilhante demais. Levamos uma hora para concluir que era aquilo mesmo", declarou o astrônomo americano Tim Livengood, do Centro Espacial Goddard.
O ar rarefeito e sem poluição ou nuvens do deserto chileno fez com que observatórios importantes, um europeu e dois americanos, fossem construídos na região. E para testemunhar o choque, astrônomos do mundo todo vieram ao Chile.
"É um evento único. Você só tem a chance de estudar algo assim uma vez na vida", disse o astrônomo brasileiro, no Chile, Horácio Dottori, que parecia mais interessado na explosão do que na conquista do tetra pela seleção.
A radiação infravermelha da explosão foi tão intensa que os instrumentos de observação do Observatório Keck, nos EUA, ficaram ofuscados.
Shoemaker disse que os fragmentos G e H têm três quilômetros de diâmetro.
As fotografias dos telescópios, inclusive o espacial Hubble, mostram que os efeitos dos primeiros impactos foram pontos negros em Júpiter. As marcas se estenderam e algumas agora são tão grandes quanto a Terra.
Júpiter é quase que totalmente uma massa de hidrogênio gasoso, com um núcleo relativamente pequeno, mas os fragmentos do cometa, ao cair em alta velocidade, criam poderosas ondas de choque na atmosfera superior e provavelmente penetram a camada de nuvens de amoníaco até uma camada de hidrogênio denso, situada vários quilômetros abaixo.
Está prevista para hoje a queda do fragmento K e amanhã do Q1. Cada um tem cerca de três quilômetros de diâmetro. A queda do 21º e último dos principais fragmentos, o W, deve ocorrer na sexta-feira.

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