São Paulo, terça-feira, 19 de julho de 1994
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Juízes rigorosos fazem uma Copa melhor

TELÊ SANTANA
ESPECIAL PARA A FOLHA

A Copa do Mundo dos Estados Unidos foi melhor do que a da Itália. Houve mais gols, melhores arbitragens, algumas boas surpresas como a Nigéria e a Romênia e, é claro, o título merecidamente conquistado pelo Brasil.
Os árbitros tiveram uma grande participação na melhoria qualitativa da Copa passada para esta.
A Fifa fez muto bem em recomendar aos responsáveis pelas arbitragens que, acima de tudo, não deixassem prevalecer o antifutebol.
Devíamos seguir esse exemplo. No Brasil, o nível de nossos árbitros ainda está longe do satisfatório. E, no entanto, é muito fácil corrigir o problema.
É só seguir as leis. Aqui, na maioria dos jogos, as leis foram cumpridas.
Vivemos num país onde as leis parecem ter sido feitas para não serem obedecidas. Em tudo. Mas, no futebol, que é o nosso caso, os árbitros brasileiros são mestres em deixar as coisas correrem.
Como muitos sabem, já tive problemas com os árbitros, no São Paulo. Já fui até julgado (e multado) pela Federação Paulista por meus protestos contra más arbitragens.
Outro dia, encontrei aqui o Renato Marsiglia. Perguntei-lhe como iria agir quando voltasse ao Brasil, se pelo estilo habitual ou se pela cartilha da Fifa. Marsiglia me disse que, agora, vai apitar como a Fifa manda. Vamos ver. Afinal, o Brasil é outro país.
Mas as arbitragens desta Copa contribuíram para que o futebol não fosse tão ruim quanto o de 1990. Não foi a violência dos zagueiros que impediu Romário, Hagi e Baggio de brilharem mais.
É verdade que poderia ter sido uma Copa melhor. Faltou imaginação à maioria das equipes. Parece que ninguém pensa mais no meio-campo.
Houve excesso de passes laterais e de enfiadas diretas de bola da defesa para o ataque.
Pelo menos, o melhor time venceu. Sobretudo pela técnica individual de seus jogadores.
Também tivemos um meio-campo que pensou pouco, que preferiu os passes para o lado e para trás, mas tivemos muita aplicação, muita raça, e isso foi bastante para fazer de um time apenas bom o tetracampeão.
Repito que nossa conquista de agora não teve o brilho da de 1970.
É verdade que os tempos são outros, mas acredito que se possa ser competitivo –e ganhador– jogando futebol de alto nível, mais criativo e mais brilhante.
Somos tetracampeões porque sempre tivemos um futebol de craques.
Não se deve acreditar nessa história de que só o futebol feio ganha Copa do Mundo.

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