São Paulo, terça-feira, 19 de julho de 1994
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Dirigentes preferem imprensa subserviente

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DA REVISTA DA FOLHA

O comportamento do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, em relação às críticas formuladas por jornalistas à seleção de Parreira é apenas mais uma manifestação do despreparo e do atraso que ainda hoje caracterizam boa parte dos dirigentes de futebol no Brasil.
Incapazes, com as exceções conhecidas, de criar clubes empresarialmente fortes, de organizar campeonatos rentáveis, de gerar a receita necessária para manter no país seus principais jogadores, os dirigentes de futebol têm entre nós uma história de incompetência, conservadorismo, politicagem e corrupção.
São os últimos a merecer dos torcedores algum tipo de reconhecimento. Ainda estão a quilômetros da modernização por que passaram outros setores da própria atividade esportiva, caso exemplar do vôlei.
Não é nada surpreendente, portanto, que promovam espetáculos de intolerância e truculência, como o de ontem nos EUA –com xingamentos e agressão a um jornalista.
Talvez não haja espaço no exíguo universo mental do comando da CBF para compreender o papel da imprensa numa sociedade democrática.
Acostumados a uma cultura de favores e a um passado de censura e ufanismo, não conseguem ver na crítica senão a intenção malévola e destruidora.
É grotesco o ataque do embriagado Teixeira à "imprensa paulista", que teria feito campanha contra a seleção brasileira. A generalização "imprensa paulista" é uma ficção –e uma fixação– bairrista do presidente da CBF.
Críticas e elogios à seleção aconteceram nos meios de comunicação de um modo geral, seja em São Paulo, no Rio ou fora do país. Se houve quem se inclinasse pelo oficialismo verde-amarelo ou quem preferisse exercer a crítica com mais profundidade, isso faz parte das diferentes concepções de jornalismo e das opções de cada veículo. Não há dúvida, porém, que o pluralismo foi a tônica na imprensa do país –que, diga-se, colaborou, com suas críticas, para mudanças fundamentais na seleção, como a convocação de Romário.
Claro que Teixeira gostaria de um novo "Prá Frente Brasil", à la 70. Felizmente, os tempos são outros.

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