São Paulo, terça-feira, 19 de julho de 1994
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Dirigente da CBF agride jornalista

UBIRATAN BRASIL; FERNANDO RODRIGUES; MÁRIO MAGALHÃES
DOS ENVIADOS A LOS ANGELES

O presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, embriagou-se na noite de anteontem depois da conquista do tetracampeonato.
Teve que ser conduzido para o seu quarto às 22h15 de domingo (2h15 da segunda-feira em Brasília) por seguranças do hotel Marriott, na cidade de Furlleton, próximo a Los Angeles, onde estava a seleção.
O presidente da CBF falava em voz alta, gesticulava bastante e andava de forma cambaleante pelo saguão do hotel.
Logo depois da partida entre Brasil e Itália, Teixeira foi para o hotel Marriott comemorar. Quando era fotografado pelos repórteres, repetia: "Ganhamos, apesar da imprensa paulista, seus filhos da puta!"
Ricardo Teixeira acredita que a mídia de São Paulo fez campanha contra a seleção brasileira e que isso tenha prejudicado o time. Não especifica como teria sido essa campanha contra a seleção.
Teixeira ficou sentado em uma das cadeiras do bar do hotel Marriott até às 21h40 de domingo (1h40 de segunda em Brasília). Foi nesse horário que irritou-se com Wilson Pedrosa, fotógrafo do jornal "O Estado de S.Paulo".
O tio de Teixeira, Marco Antônio Teixeira, reclamou e disse que gostaria de retirar a câmera do fotógrafo. Pedrosa se recusou a entregar a máquina.
Marco Antônio, que circulava pelo bar do hotel com uma garrafa de cerveja na mão, disse, referindo-se a Wilson Pedrosa: "Você é um babaca."
Estava próximo ao local o repórter Luís Antônio Prósperi, do "Jornal da Tarde." Depois de identificá-lo pelo crachá de imprensa, Marco Antônio também se dirigiu a ele chamando-o de "babaca".
Prósperi rebateu: "Babaca é você." Nesse momento, Marco Antônio Teixeira, que também é secretário-geral da CBF, deu um soco no nariz de Prósperi, que começou a sangrar imediatamente.
O repórter revidou a agressão com um soco no rosto do dirigente. Sangrando também na altura do nariz, Marco Antônio sentou em uma cadeira, chorando.
A confusão atraiu todos os policiais de Furlleton que cuidavam da segurança no hotel –vários torcedores comemoravam e sambavam no hall.
Prósperi foi conduzido a um banheiro por outros jornalistas, onde foi tratado. Marco Antônio e Ricardo Teixeira foram levados a um mezzanino do hotel, onde a seleção tinha acesso exclusivo.
No caminho, o presidente da CBF ainda chegou a fazer ameaças: "Tira esse cara daqui", gritava ao policiais, referindo-se ao repórter.
Depois de passar vinte minutos no banheiro, que teve o acesso fechado pela polícia, Prósperi foi encaminhado pelos policiais para fora do hotel.
O repórter foi aconselhado a não registrar queixa da agressão porque a Justiça americana exigiria sua permanência no país e a de Marco Antônio por mais dois meses.
A gritaria do incidente acabou com a festa, com os torcedores sendo obrigados pela polícia a deixar o hotel. Quarenta minutos depois, Ricardo e Marco Antônio Teixeira voltaram ao hall do Marriott, já praticamente vazio.
Percebendo a presença da Folha, Ricardo decidiu desabafar. "Fui perseguido pela imprensa paulista. Agora todos vocês têm que mudar de opinião", disse o dirigente, novamente sem especificar o tipo e a fonte das críticas.
Ricardo Teixeira confirmou também que pretende deixar o cargo depois de cumprir seu mandato, que termina em dezembro do próximo ano.
Na manhã de ontem, antes do embarque, Ricardo evitou aparecer no hall do hotel, novamente lotado de torcedores. Marco Antônio passou rapidamente, evitando entrevistas e procurando esconder um corte no alto do nariz.
(FR, MM e UB)

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