São Paulo, quarta-feira, 20 de julho de 1994
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FHC critica corporativismo para platéia do BB

GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O candidato do PSDB à Presidência, Fernando Henrique Cardoso, atacou o corporativismo estatal e a gestão dos fundos de pensão para uma platéia que não gostou do discurso –os funcionários do Banco do Brasil (BB).
A palestra ocorreu ontem na sede da Associação Nacional dos Funcionários do BB, em Brasília. O fundo de pensão da categoria, denominado Previ, é o maior do país, com um patrimônio de US$ 7,76 bilhões.
"O Banco do Brasil não é o Estado, é parte dele", disse FHC. Segundo ele, o corporativismo "é uma forma moderna de clientelismo", no qual "um setor específico prima pelo interesse próprio em detrimento da sociedade".
O diretor deliberativo da Previ, Francisco Parra, criticou o fato de os fundos serem obrigados pelo governo a efetuar aplicações de longo prazo no mercado financeiro, consideradas menos rentáveis.
"Os fundos usaram e abusaram", respondeu FHC. "Como parte do dinheiro vem do setor público, ele não pode servir para financiar shoppings centers."
O tucano ainda completou para um público atônito: "Os grandes capitalistas hoje são os gestores dos fundos de pensão." Para o diretor Parra, FHC "tem uma imagem distorcida dos fundos e imagina que eles estão sempre à disposição do governo".
Em seguida, FHC considerou "paranóica" a explanação do diretor de relações funcionais da associação, Valmir Camilo, que afirmou que o governo quer tirar poderes do BB.
O diretor se referia a uma resolução que está em estudo no Banco Central permitindo que a Caixa Econômica Federal (CEF) também capte recursos no exterior para financiamento interno –atualmente, atribuição do BB.
"Isso é bairrismo, todos são governo", respondeu FHC. "Não me venham com teorias conspiratórias; acusar por intenção é distorção intelectual."
"Não vamos partir do pressuposto de que o governo é o inimigo", completou o candidato. Segundo ele, não tem que haver guerra entre pedaços do governo. "Quem não sabe reconhecer o inimigo dá tiro no próprio pé."
FHC disse ainda que nunca irá privatizar o BB, mas alertou que o sistema financeiro terá que desinchar com a queda da inflação, pois não haverá mais grandes ganhos com a especulação. "Se fecha ou não fecha agência, não é problema meu, é da gestão do BB."
Para ele, a solução será o financiamento do setor produtivo. Apesar das críticas, FHC foi aplaudido sem muito entusiasmo no final da palestra. "Foi estimulante", resumiu o candidato ao sair.

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