São Paulo, quarta-feira, 20 de julho de 1994
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Quércia assume o estilo "bateu, levou"

MÁRIO SIMAS FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O candidato do PMDB à Presidência, Orestes Quércia, decidiu adotar um estilo muito próximo do "Bateu, levou", que celebrizou Cláudio Humberto Rosa e Silva, ex-assessor do ex-presidente Fernando Collor.
"Vou reagir com agressividade a qualquer provocação. Comigo é assim, é truco mesmo", afirmou ontem Quércia.
Ele se referia ao bate–boca que travou com um jornalista no programa "Roda Viva", que foi ao ar anteontem pela TV Cultura de São Paulo (leia trechos nesta página).
No programa, Quércia trocou insultos com o jornalista Rui Xavier, coordenador de política do jornal "O Estado de S. Paulo", e xingou Júlio de Mesquita Neto, diretor do jornal (que não estava presente), ao ser questionado sobre a origem de seu patrimônio pessoal.
A estratégia de adotar definitivamente uma posição de ataque frente às denúncias foi consolidada na manhã de anteontem por Quércia e seus assessores.
Eles passaram cerca de seis horas reunidos para um ensaio do que imaginavam que seria o programa à noite.
O comando da campanha de Quércia diz dispor de uma pesquisa de opinião feita pelo instituto Gallup, segundo a qual Quércia seria desconhecido por 70% dos brasileiros.
Segundo os quercistas, isso mostra que a maior parte dos eleitores desconhece as denúncias de corrupção contra o ex-governador.
A mesma pesquisa indicaria que 40% dos eleitores desejam um presidente enérgico. Com base nesses dados, os quercistas traçaram a estratégia do "Bateu, levou".
Estilo
Cláudio Humberto, ex-assessor de Collor, respondia a todas as críticas feita ao governo de modo agressivo e frequentemente com ofensas pessoais aos críticos.
A semelhança de Quércia com Collor também se estende aos gestos usados em campanha. Ergue os punhos cerrados à altura do peito e desafia os adversários.
Apesar de a reação violenta ter sido ensaiada, assessores de Quércia avaliavam ontem que ele exagerou na dose e errou o ponto da encenação, sugerindo descontrole emocional.
Quércia chamou Xavier de "canalha" dez vezes e 14 vezes de "safado". O jornalista retribuiu as acusações. Ambos ostentavam o dedo em riste.
O ex-governador levantou-se e chegou a se aproximar do jornalista: "Não sei se iria ou não agredi-lo fisicamente, mas não perdi o controle, apenas reagi a uma provocação", disse Quércia.
"Não é porque sou candidato que vou mudar meu comportamento e levar desaforos para casa. Meus amigos não iriam entender se eu ficasse calado", disse.
Ontem, Quércia afirmou que, se eleito presidente, irá reagir da mesma maneira quando sofrer qualquer tipo de provocação.
"Sendo presidente, jamais vou aturar desaforos de ninguém. O Brasil não pode ficar nas mãos de pessoas frouxas", disse.
Entre os quercistas, há a certeza de que Quércia perdeu votos em razão do exagero.
O diretor do jornal "O Estado de S. Paulo" Júlio César Mesquita, filho de Júlio de Mesquita Neto, disse ontem que o ex-governador perdeu o controle emocional, o que resultou em um episódio "lamentável para um candidato à Presidência da República".
Segundo Mesquita, Quércia tem de explicar a origem do seu patrimônio sempre que aparece em público.
"Ele deve uma explicação sobre o multiplicador dos pães da sua fortuna pessoal", disse Mesquita.

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