São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 1994
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BC e bancos se reúnem para avaliar crise

FIDEO MIYA
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente do Banco Central, Pedro Malan, e os diretores Alkimar Ribeiro Moura, de Política Monetária, e Cláudio Ness Mauch, de Normas e Organização
Foram convocados para a reunião, com início previsto para 16h de hoje, os dirigentes da Cetip (Central de Liquidação e Custódia de Títulos Privados), da Andima (Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto), da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimentos) e da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos).
A pauta das discussões inclui um balanço dos primeiros vinte dias do Plano Real e dos efeitos colaterais da crise de liquidez (dificuldade de financiamentos das carteiras de títulos no mercado interbancário), que vem atingindo corretoras, distribuidoras e bancos de pequeno porte.
A crise produziu até agora a liquidação extrajudicial da distribuidora carioca CR 500 (no último dia 11) e a insolvência do Banco Sterling na Cetip (na segunda-feira passada), que fechou um acordo com seus credores e evitou a liquidação pelo Banco Central.
A liquidação de quatro empresas do grupo Garavelo, segundo um banqueiro paulista, não foi fruto direto da crise no mercado interbancário. Ela foi motivada por problemas antigos no consórcio, que foram amplificados com o Plano Real e arrastaram consigo o banco, a corretora e a distribuidora.
Solução de mercado
Segundo a Folha apurou, a partir de uma análise da situação, os bancos querem definir com o Banco Central algumas regras para se chegar a "soluções de mercado", com o objetivo de evitar liquidações extrajudiciais que tumultuariam o sistema financeiro.
O paradigma foi a solução encontrada para o caso do Banco Sterling, que está se compondo com os demais bancos que eram seus parceiros nas operações no mercado interbancário. O Banco Central acompanharia as negociações, intervindo apenas se fosse absolutamente imprescindível.
A verdade é que o clima de desconfiança que se instalou no mercado –restrito às instituições financeiras que não possuem redes de agências e, portanto, não captam recursos do grande público por meio de depósitos à vista, caderneta de poupança e fundos de investimentos– colocou em situação delicada bancos considerados sólidos, embora de pequeno porte, que operam no atacado.
Nos últimos dias, esses bancos têm encontrado dificuldade para captar recursos com a venda de CDBs (Certificados de Depósito Bancário) e muito menos de CDIs (Certificados de Depósitos Interbancários).
Os bancos que dispõem de recursos reduziram drasticamente o número de instituições das suas listas de crédito no mercado interbancário e preferem aplicar o dinheiro ao Banco Central, em vez de continuarem a financiar as carteiras de títulos de outras instituições.
Origens da crise
Distribuidoras, corretoras e bancos de pequeno porte com títulos municipais ou estaduais em suas carteiras, financiadas no mercado aberto, foram atingidas com a entrada do real.
Os preços unitários (PUs) desses papéis, que servem de base para os financiamentos, foram reavaliados para baixo e a diferença tem que ser bancada com capital de giro próprio.
A mesma coisa ocorreu com quem financiava carteiras de títulos federais (NTNs) indexados ao dólar e ao IGP-M.
Logo nos primeiros dias do real, quando o dólar despencou 8%, um papel indexado ao dólar com valor nominal de R$ 1.000, por exemplo, passou a ser financiado por R$ 920.
Quem não tinha capital de giro próprio para bancar a diferença de R$ 80, está sendo obrigado a vender papéis de maior liquidez no mercado (entre eles ações negociadas nas Bolsas de Valores).

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