São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 1994
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Atentado a bomba é o pior da Argentina

MARCO CHIARETTI
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

A explosão que destruiu na manhã de segunda-feira a sede da Associação Mútua Israelita Argentina (Amia), no centro de Buenos Aires, já é o maior atentado da história da Argentina. Até ontem à tarde, eram 39 os mortos.
O ataque gerou uma crise política grave no governo. O chefe e o subchefe da Polícia Federal argentina, os delegados Jorge Passero e Juan Beltrán Varela, demitiram-se.
Não há nenhuma coordenação oficial a respeito do atentado, nem suspeitos fortes. Uma versão divulgada anteontem dava conta de uma "conexão brasileira". Os terroristas teriam passado pelo Brasil e pelo Paraguai.
À tarde, um cidadão iraniano foi detido em Montevidéu, no Uruguai. Tinha documentos irregulares e teria sido encontrado com panfletos em árabe.
Segundo a agência de notícias oficial da Argentina, Telam, a explosão teria sido causada por um "pequeno artefato nuclear".
O ministro do Interior, Carlos Ruckauf, nomeou Adrián Pellacci para o cargo de chefe da polícia.
Pellacci era o homem encarregado do combate ao narcotráfico e é tido como um "profissional".
Ruckauf disse que agentes do FBI (a polícia federal norte-americana), do serviço de inteligência de Israel e policiais espanhóis vão ajudar na investigação.
Enquanto isso a oposição, a imprensa e membros influentes da comunidade judaica cobravam do governo algum resultado.
Vários funcionários do governo receberam vaias quando foram prestar solidariedade aos parentes das vítimas da bomba, na sede provisória da Amia.
Estas vaias, que teriam sido dirigidas inclusive ao ministro da Justiça, Rodolfo Barra, teriam dissuadido Menem de comparecer hoje a uma manifestação convocada para repudiar o terrorismo. A agenda do presidente prevê uma viagem ao interior.
A manifestação se reunirá em frente ao Congresso. Líderes da oposição, entre os quais o ex-presidente Raúl Alfonsín, garantiram sua presença no ato que está marcado para as 15h30.
O presidente Menem, que anteontem falou emocionado em um programa de grande audiência na TV, fez um pronunciamento em cadeia nacional ontem à noite, reafirmando a decisão do governo de encontrar os responsáveis a qualquer preço e repudiando.
O governo criou uma supersecretaria de segurança. A decisão foi fortemente criticada.
À tarde, o ministro da Saúde disse que não tinha mais esperança de encontrar pessoas vivas nos escombros do prédio destruído.
Os grupos de salvamento foram reforçados por especialistas israelenses que chegaram anteontem.
A temperatura baixou e choveu intermitentemente durante todo o dia. Isso poderia reduzir as chances de eventuais sobreviventes, segundo informou um bombeiro ouvido pela Folha.
Um taxista, de quem só se sabia o primeiro nome, Jorge, deu um depoimento ao juiz encarregado do caso, dizendo que levou um casal que falava alemão à sede da Amia na noite de sábado.
Quatro pessoas foram presas. Só uma estava detida ontem: um iraquiano que vive no Brasil.
Quatro das cerca de 70 pessoas dadas como desaparecidas foram encontradas. Um homem e uma mulher que estavam perto do lugar da explosão sofreram uma crise nervosa e vagavam pela cidade.
Dov Schmorak, subsecretário para assuntos latino-americanos da chancelaria de Israel, disse que a impunidade em relação ao atentado contra a embaixada de seu país em 1992 poderia estar relacionada com o novo atentado.
Schmorak afirmou também que a chancelaria israelense não teve informação prévia a possibilidade de ataques em Buenos Aires.
Ontem, havia rumores de que o governo argentino teria sido avisado por Israel sobre possível atentado. O ministro Ruckauf negou.

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sobre o atentado à pág. 2-12

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