São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 1994
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Sobre esporte, sexo e os limites da mídia

MATINAS SUZUKI JR.
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Meus amigos, meus inimigos, venho batendo na tecla de que o esporte ocupa cada vez mais o espaço do mundo do espetáculo. Uma das provas, é o noticiário de crimes relacionados ao esporte.
Os EUA estão fixados no caso O.J. Simpson, ex-ídolo do futebol americano acusado de ter matado a mulher e o suposto namorado. Na Copa, tivemos o assassinato do Escobar na Colômbia.
A América também parou para ver o caso Tonya Harding, acusada de ter mandado agredir sua colega Nancy Kerrigan na seleção olímpica americana de patinadoras no gelo.
Tonya, a feia e malvada, agora dá o maior "recall" e está fazendo um filme. É um sucesso. Nancy, a bela e boazinha, a princesinha, está próxima do ostracismo. Êta mundinho perverso este nosso.
Este casos reacenderam o debate (que já dura uns três anos na imprensa internacional) sobre até onde a privacidade pode ser invadida pelo jornalismo. Voltou a ser o tema da América.
(Não se esqueça que um esportista campeão, Mike Tyson, está na cadeia acusado de ter estuprado uma miss).
É impressionante o número de casos relacionados a sexo e casamentos noticiados com detalhe até pela imprensa menos "sensacionalista" e pelos canais consideradas como não "TVs tablóides".
Para você ter uma idéia, somente nas últimas semanas, li nos jornais e revistas (não popularescos) as seguintes notícias, com detalhes "humilhantes" (para os envolvidos) dos processos publicados:
1) Aquela louraça que faz propaganda da Guess (que chegou ao Brasil) está sendo processada por abuso sexual. Por uma mulher.
2) Axel Rose está sendo processado por abuso sexual. Pela ex-mulher e pela "top model" que estava namorando e está nos seus clips musicais.
3) Larry King, o mitológico entrevistador da CNN, está sendo processado pela ex-namorada por abusos sexuais.
4) O ator Edward James Olmos está sendo acusado de abusar sexualmente de uma garota de 14 anos. Ela é babá de sua enteada, Stella, filha da atriz Lorraine Bracco com o ator Harvey Keitel.
Lorraine trocou Keitel por Olmos. Diante do caso, Keitel quer a custódia da filha. No tribunal, Lorraine acusou o ex-marido de estar com ódio e ciúme.
5) Mike McAlary, famoso colunista do Daily News, está sendo processado porque afirma que uma mulher que se diz vítima de um estupro no Brooklyn está mentindo para a polícia.
7) Agora tem o caso Marlon Brando. Seu biógrafo Peter Manso jura ter encontrado a famosa foto de Brando "performing fellatio", como diz a imprensa americana. O que fazer com a foto?
Um outro problema ético se colocou para a mídia: a indústria de venda dessas histórias. Deve-se comprar notícia?
Mortimer B. Zuckerman, da "U.S. News & World Report", diz que o melhor limite para a imprensa ainda é a possibilidade de desligar o canal.
E lembra que a "midia" é plural e não singular. Aliás, este lembrete vale também para a suposta guerra entre uma mídia paulista e uma carioca no "affair" seleção brasileira, não é mesmo?

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