São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 1994
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Cólera mata 1 refugiado por minuto

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Mais de mil ruandeses podem ter morrido de cólera ontem em campos de refugiados que abrigam cerca de um milhão de pessoas no Zaire.
"A cólera mata uma pessoa por minuto", disse em Bruxelas Georges Dallemagne, chefe da operação do grupo Médicos Sem Fronteiras em Ruanda.
"As pessoas estão morrendo como moscas", disse Isabel Pardigu, porta-voz da entidade em Ruanda.
A organização não tem recursos suficientes para atender os doentes. Um representante da entidade estima que a doença pode atingir entre 10 mil e 50 mil pessoas. Mais da metade delas deve morrer.
Não há estimativa de mortos até agora, mas o órgão acredita que já sejam pelo menos mil.
Duas sepulturas coletivas, cavadas por militares franceses perto do aeroporto de Goma, no Zaire, estavam cheias com aproximadamente 300 corpos cada uma. Uma terceira estava quase lotada.
As equipes sanitárias jogavam cloro sobre os corpos dos mortos para tentar deter a epidemia.
O presidente dos EUA, Bill Clinton, pediu ontem que seu governo implemente um "plano prático de ação" para Ruanda.
"Tentaremos liderar a ONU em uma resposta ao problema da cólera e aos outros aspectos desta catástrofe humana", disse.
Clinton afirmou que dará mais detalhes do plano hoje.
Ontem, a ONU levou comida pela primeira vez aos campos Mugunga e Katale, fora de Goma.
Para suprir um milhão de pessoas são necessárias 500 toneladas de alimentos por dia.
A ONU admite que só pode fornecer 20% do que é preciso. Agências humanitárias criticam a lentidão no envio de ajuda e dizem que só uma grande operação aérea pode solucionar o problema.
A fuga de refugiados para o Zaire, a maioria hutus, foi causada pela vitória na guerra dos rebeldes tutsis da FPR (Frente Patriótica Ruandesa) no início do mês.
Os hutus temem ser alvo de vingança da FPR pelas 500 mil mortes que podem ter ocorrido em massacres contra tutsis. Ontem, cinco tutsis morreram em Goma.
Uma missão francesa chegou à capital Kigali para negociar com o novo governo a volta dos refugiados a Ruanda e a retirada das tropas francesas.
Por causa da situação no país, a França pode manter tropas mesmo depois do final do prazo da missão humanitária, em 22 de agosto.
Elas devem ser substituídas gradualmente por tropas da ONU.
Um especialista francês disse ontem que há indícios de que o vulcão Nyiaragongo, perto de Goma, pode entrar em erupção.

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