São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 1994
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Manifestação reúne 150 mil contra terror na Argentina

MARCO CHIARETTI
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

Uma multidão calculada pela polícia em 150 mil pessoas participou ontem de um ato de repúdio ao atentado que destruiu a sede da Associação Mutual Israelita Argentina, a Amia, na segunda passada. Foi a maior concentração popular da cidade nos últimos anos.
Até agora já foram confirmados 46 mortos, mas este número deve subir e pode passar de cem. Há mais de 70 pessoas desaparecidas.
O presidente argentino Carlos Menem esteve presente, com todo o ministério, mas não falou. Foi vaiado quando chegou ao palanque, montado na praça do Congresso, no centro de Buenos Aires. Anteontem, dizia-se que Menem não compareceria.
Tirando a vaia a Menem, o ato foi realizado em absoluto silêncio. O único incidente da manifestação teve como protagonista o ministro da Economia, Domingo Cavallo. Um grupo de manifestantes cercou o carro oficial que levava o ministro, insultou-o e bateu no veículo.
O governo está sendo criticado pela impunidade em relação a outros atentados e ameaças. Há dois anos e quatro meses, uma bomba destruiu a Embaixada de Israel em Buenos Aires, matando 29 pessoas. Ninguém foi preso. Não há nenhuma pista consistente neste segundo massacre.
Choveu durante todo o ato, que terminou às 16h45. A temperatura era de menos de 10ºC. A praça ficou cheia de guarda-chuvas.
A manifestação teve início às 16h, com a execução dos hinos nacionais da Argentina e de Israel. O rabino-chefe da Argentina, Salomão Ben Amu, maior autoridade religiosa judaica do país, fez uma prece pelos mortos.
Depois dele falaram o presidente da Amia, Alberto Krupnicoff, da Organização Sionista Argentina, Oscar Hansmann, e da Daia, Ruben Beraja. A Daia é a entidade política central da comunidade judaica no país. Todos insistiram na necessidade de justiça.
Também se manifestaram Yitzhak Aviran, embaixador de Israel na Argentina, e Dov Schmorak, subsecretário para assuntos latino-americanos da chancelaria israelense. Schmorak leu duas cartas, enviadas pelo premiê de Israel, Yitzhak Rabin, e pelo chanceler Shimon Perez. Para Rabin, o atentado foi o maior ataque contra o povo judeu desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
As equipes de resgate continuam trabalhando nos escombros do edifício de sete andares da Amia, a mais importante instituição de ajuda mútua da comunidade judaica na Argentina, uma das maiores do mundo. Há cerca de 400 mil judeus no país.
A cidade praticamente parou à tarde. As lojas fecharam suas portas a partir das 14h. O governo dispensou o ponto dos funcionários públicos. A CGT conclamou os operários a uma greve.
Houve outras manifestações de repúdio ao atentado em outras cidades como Córdoba e Santa Fé.

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