São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 1994
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Árabes da fronteira reagem

JOSÉ MASCHIODIONE KUHN

JOSÉ MASCHIO E DIONE KUHN
DA AGÊNCIA FOLHA

Os árabes que vivem em Foz do Iguaçu (PR) e Ciudad del Este na fronteira entre o Brasil e o Paraguai estão revoltados com a ligação, feita pela imprensa argentina, entre o atentado em Buenos Aires e membros da comunidade.
Hussein Teiyen, presidente da Câmara de Comércio de Ciudad del Este, disse ontem que a comunidade árabe não aceita insinuações. "Não estamos aqui para a guerra, mas para produzir."
Teiyen, libanês naturalizado paraguaio, afirmou que a comunidade árabe "não aceita ingerências políticas ou ideológicas, muito menos acusações sionistas".
Saib Jebai, 35, comerciante em Ciudad del Este desde 1979, diz que "insinuações de uma ligação terrorista com base em Ciudad del Este e Foz de Iguaçu é mera propaganda sionista".
Segundo Jebai, os árabes da comunidade nada têm contra os judeus, "mas sim contra sionistas que vivem culpando os árabes por suas tragédias".
Vereador em Foz do Iguaçu pelo PPR e candidato a deputado federal, Mohamad Bakarat, 55, culpa a força "dos judeus na mídia internacional" pelas acusações.
"Estamos estabilizados financeiramente e os sionistas temem árabes com potencial financeiro".
Atef Said Manah, 44, empresários em Ciudad del Este, ironiza a idéia de que novos imigrantes sejam de grupos radicais.
"Eles se matam de trabalhar para que daqui quatro ou cinco anos consigam um lojinha. Como teriam tempo para pensar em retaliações a judeus?"
A comunidade árabe de Uruguaiana (RS), município que faz fronteira com a Argentina, está indignada com a prisão do iraquiano Adnan Mohamed Yousif, 31. Ele foi preso na última segunda-feira em Paso de Los Libres.
O líder da comunidade, o libanês Mohamad Sakher, condena o atentado, mas rechaça as notícias que estão sendo veiculadas na Argentina de que o ato terrorista teria sido provocado por muçulmanos.
"O povo hebreu sabe muito bem que o islamismo nunca foi radical com os judeus." Segundo Sakher, na época da inquisição "o único refúgio que os judeus tiveram foi nos países islâmicos".
Para Sakher, existe a possibilidade de judeus ortodoxos, contrários ao acordo de paz no Oriente Médio, terem causado o atentado.
Seria uma forma, afirmou ele, de esses judeus mostrarem o seu poder ao governo de Israel.
O comerciante Ahmad Ibrahim Barakat, 44, também destacou a possibilidade de neonazistas terem atuado no atentado argentino.
Para ele, só alguém que vive há tempos em Buenos Aires poderia preparar o ataque. "Em Foz do Iguaçu e Uruguaiana só tem gente que trabalha", afirmou Barakat.
A Sociedade Árabe Palestina Brasileira, localizada em Uruguaiana, calcula que aproximadamente 3.000 árabes vivem atualmente no município.

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