São Paulo, sábado, 23 de julho de 1994
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Verba a empreiteiras racha governo Fleury

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

A pressão de empreiteiros para receber dívidas do governo paulista provocou um choque entre Frederico Coelho, o Lilico, irmão do governador Fleury, e o secretário da Fazenda, Eduardo Maia.
O governo deve US$ 2 bilhões aos empreiteiros. Lilico, que é secretário de Governo e um dos homens mais influentes na campanha eleitoral do PMDB, tem sido o responsável por definir a política de pagamento aos construtores.
O secretário da Fazenda tem manifestado, no Palácio dos Bandeirantes, constante irritação com o poder de Lilico.
Técnicos da Fazenda avaliam que o Estado atravessa uma difícil situação financeira e por este motivo não teria como fazer os pagamentos determinados pelo irmão do governador.
Por esse motivo, Maia chegou até a pedir demissão recentemente a Fleury. O pedido não foi aceito para não expor a crise à opinião pública.
Segundo apurou a Folha, Maia, ainda não está convicto se fica até o final da gestão do governo Fleury, que acaba este ano.
Publicamente, tanto Maia como Lilico negam o atrito. O choque, no entanto, é confirmado por empreiteiros, assessores do Palácio dos Bandeirantes, políticos do PMDB e técnicos da Secretaria da Fazenda.
O secretário diz apenas uma frase: "Não existe crise". Lilico informou que não define pagamento e que tudo é discutido e planejado em conjunto com Eduardo Maia.
Os pagamentos, segundo o irmão do governador, não obedecem à sua vontade pessoal e sim ao atendimento às obras prioritárias. Entre estas obras, ele cita a conclusão da Rodovia Carvalho Pinto.
"O governo definiu uma estratégia. Tem que terminar obras importantes que poderão dar uma cara à gestão Fleury", disse. "O Maia é um dos grandes caras que eu tenho no governo".
Enquanto Maia e Lilico se desentendem, o governador recebe pelo menos uma cobrança por dia dos empreiteiros. Ontem, por exemplo, chegou ao seu gabinete um ofício da Apeop (Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas).
O documento, obtido pela Folha, diz que a situação de dívidas do governo é "insuportável". A Apeop é uma das maiores entidades do setor e representa cerca de 500 empresas .
PânicoAs pressões dos empreiteiros aumentaram depois de declarações feitas recentemente pelo candidato do PSDB ao governo do Estado, Mário Covas, favorito nas eleições desse ano.
Em um jantar com 70 empreiteiros, na sede do Sinicesp (Sindicato da Construção Pesada de São Paulo), no dia 20 do mês passado, Covas disse que iria rever as dívidas feitas pelos governos anteriores.
"Vou ser mais honesto. Eu não sei ainda como fazer para pagar as dívidas", afirmou o candidato do PSDB. As palavras detonaram o pânico dos construtores, que temem perder parte das dívidas.

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