São Paulo, sábado, 23 de julho de 1994
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Mais Brasil

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Em coletiva reproduzida no Aqui Agora, Zagalo teve mais um daqueles seus desabafos rancorosos, gritando que os brasileiros deveriam festejar o tetra e não apontar algum ato ilegal cometido pela CBF.
Ao seu lado, Carlos Alberto Parreira tentava dizer que não é bem assim, que na seleção não tem ninguém que se considere acima da lei, que os jogadores e a comissão estavam dispostos a pagar o que fosse preciso. Que Osiris estava certo.
Aos gritos, Zagalo cortava o técnico. Para ele, como para os jogadores, caso de Taffarel, que foram ouvidos na televisão no dia anterior, a seleção tem sim todo o direito de não pagar. E sem ouvir reclamação, pois é só o tetra que importa.
Entre um e outro, a Globo fecha com Zagalo. Seguindo no esforço de limpar a barra das críticas violentas que fez aos jogadores nas eliminatórias, a emissora faz de conta que tudo não passa de "polêmica", sua palavra-chave no episódio.
Ela começou a ser usada nos seus telejornais de anteontem e seguiu ontem. É uma forma de afirmar que há dúvida sobre se a seleção e Ricardo Teixeira deveriam ou não cumprir a lei. Uma dúvida que, na televisão, só existe na Rede Globo.
Uma dúvida que explica um texto usado ontem na emissora, para noticiar que o ministro da Fazenda estava decidindo o que fazer no episódio das bagagens. "A orientação do ministro da Fazenda deve ser no sentido de que a lei seja cumprida."
É como se fosse aceitável, normal até, o ministro orientar o oposto –que a lei não seja cumprida. Só na Globo, que desde o fim das eliminatórias tenta voltar atrás, insistindo com o seu bordão neofascista, "a Globo é mais Brasil".
Seguindo ordens de Zagalo, o Globo Repórter de ontem mostra então "como o tetra reacende a esperança e devolve à alma brasileira um gosto de vitória". Nada de informação negativa. Nada, por exemplo, do US$ 1 milhão sonegado.
Também nada, é claro, de "Pelé pede a quebra do sigilo bancário da direção da CBF", notícia do TJ de Boris Casoy. Vale mais "contar a vida e os novos projetos do brasileiro mais poderoso do mundo, João Havelange", por Pedro Bial, ainda no Globo Repórter.
João Havelange que, deu a CBN, vem de lançar anteontem o genro Ricardo Teixeira para presidente da sua Fifa. E que, assim, só quer boas notícias do tetra. Tanto quanto Fernando Henrique, outro amigo da casa que quer ser presidente.

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