São Paulo, sábado, 23 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo venderá ativos para pagar reajuste

MARCO CHIARETTI
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

O secretário de Política Econômica do ministério da Fazenda, Winston Fritsch, disse ontem em Buenos Aires que terão de ser buscadas fontes de receitas adicionais se for concedido aumento para o funcionalismo público.
Fritsch foi participar de reunião relacionada à implantacao do Mercado Comum do Sul, o Mercosul, que durou todo o dia.
Fritsch disse que o Brasil pretende proteger certos setores da indústria, como o de telecomunicações, informática e máquinas operatrizes. Argentina, Uruguai e Paraguai querem tarifas bem menores.
No intervalo da reunião, deu uma entrevista à Folha. Seus principais trechos:

Folha – A pressão de setores do funcionalismo por aumentos pode provocar um desajuste?
Fritsch – Isso evidentemente depende de que se achem receitas para cobrir eventuais demandas sobre o caixa. Vale para salários e qualquer despesa extra-orçamentária de vulto, que só poderia ser coberta se houvesse de fato alguma receita adicional. Nós partimos de um orçamento segundo nossas projeções muito equilibrado em termos operacionais, e, à medida em que aparecem gastos vultosos não planejados, estes gastos terão que ser cobertos por receitas também não planejadas.
Folha – "Receitas não planejadas" costumam ser entendidas como impostos novos...
Fritsch – Ou impostos novos, ou pelo menos, como uma ponte até que se criem novas fontes de receita corrente, algum tipo de venda de ativo. Não tem outro jeito. Ou você gera receitas correntes para pagar despesas correntes, e esta é a solucao a longo prazo do problema...
Folha – Ou pede emprestado ou emite...
Fritsch – Isso nós não queremos. Se forem gastos de capital, pode-se vender ativos, mas se forem receitas correntes, o ideal é gerar receitas corentes.
Folha – Para o governo, qual será a inflação de julho?
Winston Fritsch – Nós trabalhamos com as estimativas do mercado, que podem ser observados em papéis de consultores. O meu número varia dia a dia. Gostamos muito de lembrar o público de que os índices que estao saindo agora carrregam uma memória inflacionária muito grande. O índice de julho terá dez a quinze dias da inflação de junho. A primeira inflação do real será a de agosto.
Folha – Algum número?
Fritsch – Estamos esperando uma inflação ponta a ponta em julho muito baixa, com índices entre 2% e 5%, dependendo do comportamento dos preços no atacado. Em agosto teremos bem menos do que isso.
Folha – Haverá deflação?
Fritsch – Não acredito que haverá deflação, mas estabilidade em nível baixo. Um pouco mais alta em setembro e outubro, que é o auge da entressafra.
Folha – O plano aumenta o desemprego?
Fritsch – Os programas ortodoxos normalmente causam desemprego. Este não. A tendência de médio prazo é na verdade expansionista. O impacto expansionista deve acontecer no final de julho e ao longo de agosto, na medida em que as pessoas percebam que têm um pouquinho mais de dinheiro no bolso.
Folha – Há algum projeto para mudar o perfil da dívida interna brasileira?
Fritsch – Nada será feito de forma radical e imediata. É evidente que a estabilidade trará naturalmente um alongamento do financiamento em geral da economia.

Texto Anterior: Ex-secretário aumentou a arrecadação
Próximo Texto: Empresários confiam no plano, diz pesquisa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.