São Paulo, sábado, 23 de julho de 1994
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Biólogo da USP defende eugenia "democrática"

HELIO GUROVITZ
ENVIADO ESPECIAL A VITÓRIA

O geneticista Oswaldo Frota-Pessoa, da USP e do Conselho da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), defendeu ontem em Vitória a eugenia, ou melhoria genética da espécie humana.
"Eugênico quer dizer geração melhorada. Só virou sinônimo de nome feio por ter sido usado por Hitler", disse Frota-Pessoa na 46ª Reunião Anual da SBPC, que encerrou-se ontem.
"Numa sociedade absolutamente democrática, deixar de melhorar geneticamente a população humana pode ser uma omissão criminosa", afirmou o cientista, que coordenou a mesa redonda "Ética e Clonagem Humana".
Até o padre Marcio Fabre dos Anjos, da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião, disse no debate que "cada vez mais se percebe que a não intervenção na natureza pode significar omissão".
O ponto de partida das discussões foi o anúncio, feitos nos EUA em 1993, da obtenção de cópias idênticas (clones) de embriões humanos, com método semelhante ao usado em animais.
O implante desses embriões no útero de mulheres poderia gerar seres geneticamente idênticos.
Segundo Bernardo Beiguelman, da Unicamp e também do Conselho da SBPC, técnicas atuais de fertilização assistida já fazem implante de vários embriões no útero, para haver maior chances de sucesso da fertiização.
Às vezes, mais de um embrião "pega" e nascem gêmeos de proveta não idênticos.
"Que preconceito é esse da sociedade contra gêmeos monozigóticos (idênticos)?", perguntou Beiguelman a respeito dos protestos gerados pelos clones humanos.
O advogado Walter Ceneviva, articulista da Folha, respondeu que deve haver um limite jurídico para o homem na sua "brincadeira de Deus".
Segundo ele, os clones poderiam acabar levando à produção de policiais ou jogadores de futebol geneticamente programados para exercer suas funções.
Mas para Frota-Pessoa a educação já é uma forma de programar pessoas, manipulando o ambiente.
"Por que não ter um mundo em que as pessoas se aperfeiçoem tanto genética quanto ambientalmente?", perguntou o geneticista.
Ele fez questão de ressaltar que "é preciso combater qualquer tipo de ditadura, racial ou não".
"Mas não é a proibição da clonagem que vai salvar os indivíduos de serem sumariamente fuzilados", afirmou.

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