São Paulo, sábado, 23 de julho de 1994
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A segunda explosão

JANIO DE FREITAS

Os dois episódios mais explosivos do governo Itamar são de natureza exatamente oposta, mas no resultado se mostram precisamente idênticos. A desastrada e logo insustentável nomeação de Eliseu Resende para a Fazenda, em maio de 93, devastou a imagem do governo pela entrada, nele, de alguém com o conceito pessoal muito deteriorado. A demissão de Osiris Lopes Filho devasta a imagem do governo pela saída de alguém cujo conceito não foi ferido por nenhuma conveniência pessoal ou política.
Lembra-se, a propósito, que as três recomendações de Mário Henrique Simonsen, quando há pouco indagado pela revista "Veja" sobre o fundamental para assegurar o êxito do plano econômico, incluíam a originalidade de que uma delas não se expunha pelas habituais expressões técnicas, mas por uma personificação: "Vigie-se a expansão monetária, segure-se a despesa do governo e mantenha-se o Osiris Lopes Filho na Receita. Pronto". Não era "mantenha-se o esforço de arrecadação" ou "mantenha-se o cerco à sonegação". Era a permanência de uma pessoa, que passara a representar algo muito além de si mesma.
O episódio de Eliseu Resende foi um marco no governo Itamar. A partir dali, muitas expectativas e tolerâncias se dissolveram. As pesquisas sobre o prestígio do presidente mostraram isso com eloquência. Pela reação à saída de Osiris, aí está um segundo marco, até muito mais nítido do que o lançamento do real. E isso acontece, curiosamente, onde o governo Itamar se mostrara mais inovador e eficiente.
Correção
Parte da edição da Folha de ontem continha um erro de informação nesta coluna. Dizia uma frase: "Não excedo a coincidência, mas não deixo de registrar que o ministro Ricupero é casado com uma funcionária do Serpro" – o que não é exato.
A informação errônea me foi dada às 18h de anteontem, quando apurava os antecedentes do pedido de demissão de Osiris Lopes Filho. Não tive como checá-la, até pela hora. Por isso, antes de entregar o artigo no limite de 19h30, retornei ao informante, para que me desse certeza da informação. Confirmou-a com segurança.
Tenho certeza de que qualquer um consideraria tal informante respeitabilíssimo, se me fosse possível identificá-lo. Nem por isso deixa de estar sujeito a um equívoco, como qualquer de nós. Às 23h45 avisou-me do erro da informação. O erro tornou-se meu, já que assim teria sido o acerto, e por ele assumo toda a responsabilidade.
Às 6h30 da manhã de ontem mandei ao ministro o seguinte telegrama, para que já o encontrasse ao chegar ao gabinete, e, por garantia, mais tarde um fax com o mesmo teor:
"Parte da edição da Folha destinada ao interior continha em minha coluna um erro grave de informação, segundo o qual V.Excia. é casado com uma funcionária do Serpro. Interrompemos a impressão da Folha , retirando o erro na maior parte da edição. Peço a V.Excia. todas as desculpas possíveis. Na edição de amanhã (hoje) estarei expondo o erro e reiterando as desculpas publicamente."
É o que faço, estendendo agora o pedido de desculpas a todos os leitores que tenham lido a informação errônea.

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