São Paulo, sábado, 23 de julho de 1994
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ONU diz que situação dos refugiados é um pesadelo

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A ONU está pedindo aos refugiados da guerra civil de Ruanda no Zaire que voltem a seu país, para escapar de uma situação de "absoluto pesadelo".
"Estamos pedindo que as pessoas voltem. Achamos que agora será seguro para eles voltarem. Aqui, estamos lutando contra o cólera e para organizar os campos; é um absoluto pesadelo", disse o porta-voz em Goma do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), Panos Moumtzis.
A maioria dos refugiados é da etnia hutu (majoritária). Eles fugiram em massa diante do avanço da guerrilha da FPR (Frente Patriótica Ruandesa), da etnia tutsi.
Os fugitivos temem que os tutsis, agora no poder em Kigali, a capital ruandesa, tentem vingar-se do massacre de meio milhão de tutsis por tropas do antigo governo hutu, derrubado há duas semanas.
A guerra civil começou com a morte do presidente Juvenal Habyarimana (um hutu) na queda de um avião, em 6 de abril. Suspeita-se de um atentado.
Moumtzis disse que o enviado especial do Acnur a Kigali, Michel Moussali, chegou a um acordo na quinta-feira com o comandante militar da FPR, Paul Kagamé, para que a repatriação dos refugiados ocorra sem represálias.
A operação será levada a cabo por tropas francesas e norte-americanas, sob o comando da ONU.
Os voluntários de entidades humanitárias acham impossível calcular quantas pessoas estão morrendo todos os dias nos campos de refugiados. Na quinta-feira foi divulgada uma estimativa de 800 a 1.000 mortos a cada dia.
"Está claro que o cólera está se espalhando rapidamente", disse ontem Nina Winquist, da Cruz Vermelha. Voluntários do grupo MSF (Médicos Sem Fronteiras) disseram que mais 50 mil pessoas poderão morrer nos próximos dias.
Isabel Pardieu, do MSF, disse que a entidade vai enviar 40 mil litros de fluido hidratante intravenoso para Goma nos próximos dias.
O Acnur estima que seria necessário um suprimento diário de 30 milhões de litros de água potável para suprir as necessidades dos refugiados, que têm sido obrigados a recorrer ao poluído lago Kivu.
Nos últimos dias, o órgão da ONU descarregou em Goma 12 aviões com 30 toneladas de alimentos para os refugiados. A Cruz Vermelha levou outras 400 toneladas. Voluntários dizem que seriam necessárias 600 toneladas por dia.
Em Genebra, sede do Acnur, a porta-voz Sylvana Foa criticou os governos de todo o mundo por sua lentidão na resposta ao drama dos refugiados de Ruanda.
"Todos os países, mesmo os mais pobres, deveriam contribuir para aliviar o desastre, que é pior do que qualquer outra coisa acontecendo em qualquer outro lugar."

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