São Paulo, sábado, 23 de julho de 1994
Texto Anterior | Índice

O Brasil tem saída

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Erramos: 24/07/94
O número correto de famílias beneficiadas por programas de alimentação no norte de Minas Gerais e Nordeste é 15 mil, e não 1.500, como foi publicado nesta coluna.
Apesar das dificuldades –e são grandes–, existe em nosso povo muita esperança. O dia de amanhã será melhor. É esta força misteriosa que sustenta a nossa gente, impedindo que desanime e suscitando constância nos esforços e experiências criativas. Nosso povo confia em Deus. Encontra na oração o segredo mais profundo da energia, sempre renovada, com que enfrenta os maiores desafios.
A 2ª Semana Social Brasileira, organizada pela CNBB, começa domingo, dia 24 de julho, em Brasília, e apresenta em seu programa testemunhos que mostram o ânimo inquebrantável do povo na luta pela vida. As semanas regionais, que preparam este evento, ofereceram inúmeros exemplos de experiências bem-sucedidas, apontando alternativas viáveis e capazes de libertar os que pareciam relegados à exclusão econômica e social.
Temos, com efeito, que superar a crítica inoperante e as atitudes dos que apenas aguardam a intervenção quase milagrosa do Estado. Não podemos ignorar o papel que cabe ao Estado na promoção dos excluídos. No entanto, é preciso potenciar a contribuição da sociedade que se organiza e, em especial, os esforços dos mais pobres para se unirem e ser protagonistas de sua própria sobrevivência e ascensão social.
Cada um de nós conhece grupos que se solidarizaram e, neste tempo de recessão e desemprego, conseguiram encontrar formas inteligentes e eficazes de manter a própria família.
Os participantes da Semana Social terão oportunidade de ouvir o testemunho das oito experiências escolhidas: a organização dos ribeirinhos da Amazônia; a valorização da cultura popular a serviço da saúde na Diocese de Ji-Paraná (RO), encontrando formas alternativas às dispendiosas soluções da tecnologia farmacêutica; a participação de grupos populares no planejamento orçamentário numa cidade do interior do Ceará e na área metropolitana de Porto Alegre; a atuação de operários unindo-se para salvar a massa falida da Companhia Carnonífera de Araranguá (SC).
Foi escolhido o Movimento de Educação Popular do Espírito Santo, Mepes, para relatar o trabalho das Escolas Família-Agrícola, com mais de 20 anos a serviço da juventude rural. Servem ainda de exemplo as cooperativas agrícolas de trabalhadores sem-terra que hoje alcançam alto nível de produção e a cooperativa dos catadores de papel de Belo Horizonte e outras cidades.
Em todas essas realizações sobressai o valor das organizações do próprio povo, o espaço da criatividade, as formas de companheirismo e de verdadeira solidariedade que dignificam ainda mais essas iniciativas.
Tenho em mãos a recente publicação de Cáritas Brasileira, narrando o programa, em convênio com a ONU, para os moradores do semi-árido brasileiro.
É notável! Este programa de alimentos, em três anos, já atinge 1.500 famílias localizadas em 153 municípios ao norte de Minas e no Nordeste. É estupendo o resultado do trabalho comunitário e o desenvolvimento das áreas, antes castigadas pelos efeitos da estiagem.
A Semana Social, de 24 a 29 de julho, ajudará a investir mais nessas importantes conquistas da organização do povo simples, que nos surpreende sempre mais pela sua fé em Deus, sua tenacidade e coragem.
No dia 29, unamo-nos ao ato público de conclusão da Semana Social para orar pelo Brasil, pelo nosso povo. Não haja dúvida, o Brasil tem saída.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

Texto Anterior: Aniversário de crianças
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.