São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994
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Atlas brasileiros desconhecem sofisticação

Editoras dizem que livros são adequados ao nível do ensino brasileiro e ao poder de consumo do estudante
Da Reportagem Local
As editoras de atlas no Brasil descobriram que mapa dá dinheiro, mas ainda não conhecem a diversidade e a sofisticação que se vê na Europa e nos Estados Unidos. A multiplicação de títulos é voltada para um único alvo. Já existem pelo menos 12 atlas no mercado, todos dirigidos para estudantes de 1º e 2º graus.
Como o alvo é o mesmo, os atlas didáticos são muito parecidos. Têm, na maioria, 32 ou 48 páginas coloridas, capa mole e mapas atualizados, com as mudanças que se seguiram à derrocada do comunismo. Cinco dos dez atlas comparados pela Folha não têm índice (leia quadro ao lado).
Pode parecer um detalhe, mas sem índice é impossível descobrir onde fica Pasadena, a cidade da Califórnia onde a seleção brasiliera conquistou o tetracampeonato.
Círculo vicioso
A precariedade dos atlas no Brasil é alimentada por um círculo vicioso, segundo editores e autores. Os atlas são simplificados porque têm que custar barato e são baratos porque o estudante não tem dinheiro para comprar atlas sofisticados.
"Nosso atlas tem índice precário porque tem que chegar na escola a um preço razoável. Não dá para pôr um índice de 50 páginas", diz Walter Weiszflog, 48, gerente editorial da Melhoramentos.
É da Melhoramentos o mais antigo atlas didático, de 1936.
"Atlas no Brasil é um produto basicamente didático porque o brasileiro médio não tem o hábito de consultar mapas", afirma José Bantim Duarte, 53, diretor editorial da Ática, editora que lidera a venda de atlas no Brasil.
Outro desestímulo à diversificação, segundo Duarte, é o custo de produção de um atlas. Sem especificar cifras, ele diz que atlas só não é mais caro do que livros de arte.
Dois autores de atlas dizem que a falta de sofisticação decorre do baixo nível do ensino brasileiro.
"Os atlas didáticos são limitados pelo preço e pelo grau do aluno", diz Vital Darós, 58, geógrafo formado pela USP e autor do "Atlas Escolar" da editora FTD.
Mário de Biasi, 57, professor do departamento de geografia da USP e autor do "Atlas Geográfico Escolar" da Ática junto com Maria Elena Simielli, diz que os próprios professores ajudam a alimentar o círculo da precariedade.
"Os atlas são simplificados por falta de conhecimento dos professores de determinados assuntos", afirma De Biasi.
Segundo ele, a simplificação do "Atlas Geográfico Escolar" foi decidida após uma pesquisa em escolas da periferia, da classe média e da classe A em São Paulo.
"A conclusão da pesquisa é de que atlas sofisticados não eram entendidos pelos alunos e não atendiam o currículo escolar", diz.
Vendas
A pesquisa estava certa, segundo o caixa das editoras. As vendas de atlas de cinco editoras consultadas pela Folha somam cerca de 650 mil exemplares ao ano.
Este número é uma das explicações para a proliferação de títulos e o fim da hegemonia de dois atlas que dominavam o mercado até o final dos anos 70 –o da Melhoramentos e o do MEC.
Na Ática, por exemplo, a venda de atlas é igual à de dicionários escolares –cerca de 450 mil ao ano, segundo Duarte. Só perde para uma coleção de ciências, cuja venda passa de meio milhão ao ano.
A Melhoramentos está na 57ª edição de seu atlas e já vendeu 2,7 milhões de exemplares desde 1936, segundo Weiszflog.
Na Melhoramentos, atlas é também o segundo livro mais vendido. São 60 mil exemplares ao ano, diz a editora. Fica atrás do "Minidicionário", que vende em média 100 mil cópias no mesmo período.

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