São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994
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Juma pode casar com uru-eu-wau-wau

DA REPORTAGEM LOCAL

As jumas Mandeí, 15, Tovan, 11 e Pitangui, 9, devem voltar a encontrar seus "primos" étnicos, dois índios uru-eu-wau-wau, em agosto desse ano. Talvez se casem.
As meninas são filhas de Borehá, cerca de 50, casada com Aroká, 60, líder dos jumas. É possível que os pais das meninas sejam seringueiros ou castanheiros.
"Durante algum tempo, as mulheres jumas tiveram relações promícuas com esses homens", diz Rieli Franciscato, indigenista da Funai responsável pelo contato com o grupo, que tem apenas mais dois membros: Marimá, 70 e sua mulher Inté, 65.
Franciscato, coordena a aproximação dos jumas com os uru-eu, que vivem em Rondônia e com quem trabalhou por dois anos.
No começo deste ano, dois uru-eu, de 20 e 14 anos, ficaram por 90 dias com seus "primos" étnicos, de quem entendem a língua.
Com o contato, o indigenista pretende recolher informações sobre a história juma e dar assistência ao grupo. Os índios uru-eu caçaram e plantaram para os jumas.
Segundo Raimundo Cerejo, administrador da Funai em Manaus, a idéia de Adolpho Kilian de procurar maridos para as meninas veio de uma "leitura de mímica".
Os homens jumas "através de gestos, pediam que alguém do grupo de contato, chefiado por Kilian, tivesse relações sexuais com Mandeí", diz Cerejo.
Segundo Franciscato e Kilian, também houve uma tentativa do Conselho Indigenista Missionário de aproximar jumas e parintintins.
Os dois foram contra. "Os parintintins estão integrados na sociedade ambiente e destruiriam a cultura juma, que é materialmente rudimentar", diz Franciscato.
Segundo a Funai, a história dos jumas é obscura e há pouquíssimos registros sobre o grupo, que não fala português. Linguistas americanos estiveram na área e aprenderam juma, mas não há especialistas na frente de contato da Funai.
Em 1964, teria havido um massacre de parte do grupo. O crime foi atribuído a jagunços mandados por empresários do extrativismo.
Acusados confessaram a morte de três índios, mas missionários afirmam que 32 foram mortos. Segundo a Funai, o caso, aberto em 1978, ainda está na Justiça.
Depois do suposto massacre, os jumas, ou borahás, desapareceram na mata, numa região a cinco horas de barco e caminhada da BR-230 (Transamazônica), no sudoeste do Amazonas, entre os rios Mucuim e Purus.
Segundo Franciscato, os uru-eu-wau-wau, jumas e parintintins pertencem ao tronco linguístico tupi-cawahib (ou cavaíba). Alguns estudos dizem que os jumas são karib, um dos quatro grandes troncos linguísticos dos índios brasileiros.

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