São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994
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Pesquisas entre aspas

JANIO DE FREITAS

Tão logo formalizou sua candidatura, Fernando Henrique apressou-se a encontrar em Minas o dono da Vox Populi, cujas pesquisas, muito peculiares, foram a chave-mestra para a difusão da idéia, na primeira fase da campanha de 89, de que Collor era um candidato com potencialidades eleitorais. Este fato e a iniciativa de Fernando Henrique dispensam explicações temerárias sobre a função atribuida a certos gêneros de pesquisa eleitoral.
Isso faz mais estranhável, e muitos acharão desde logo comprometedor, o silêncio do Ibope ao longo de toda a semana, sobre uma pesquisa que foi identificada como sua. E da qual inquiridos do Estado do Rio e do Espírito Santo copiaram perguntas que configuram, explicitamente, indução de opinião, e não só para as respostas. Ei-las:
"–Qual dos seguintes candidatos o sr. preferiria para presidente do Brasil: alguém como Lula, que é realmente próximo da população pobre e dos trabalhadores, mas que tem pouca instrução e pouca experiência para presidente, ou alguém como Fernando Henrique, que não é tão próximo da população pobre e dos trabalhadores, mas que tem instrução e experiência necessárias para ser presidente?
"– Algumas pessoas dizem que Lula traria uma mudança radical para o Brasil, que resultaria em confusão, greves e violência. Falam que o próprio Lula está disposto a ir contra a lei e que seu candidato a vice defende violência como caminho para fazer mudanças. Por outro lado, dizem que Fernando Henrique vai fazer as mudanças necessárias com respeito à lei, com ordem e estabilidade. Levando isso em conta, sua chance de votar em Fernando Henrique é: muito maior, um pouco maior ou igual à chance que havia antes?"
Quando as perguntas são de má-fé, aparecem com forma diferente e sucinta na divulgação da pesquisa. Ali em volta das novelas aparecem assim: "Quem está mais preparado para a Presidência? Quem fará as reformas respeitando a lei?"
O Tribunal Superior Eleitoral está em dívida com uma providência que coíba o expediente da alegação de pesquisa encomendada comercialmente, com o qual estão sendo burladas até as frágeis exigências legais aplicáveis às pesquisas.
Veio e vai longe
Já se sabe que a demissão de Osiris Lopes Filho começou antes do caso no Galeão, que foi, como ele diz, a gota d'água. Mas o tumulto do Galeão também começou muito antes, antes mesmo da Copa. Foi quando o presidente da CBF. Ricardo Teixeira, foi posto sob fiscalização especial da Receita, por indícios de pesada sonegação. E alguns jogadores, por motivos idênticos, sob fiscalização idêntica. Esta última, interrompida desde que se iniciaram e até que se concluíssem as atividades da seleção, para que não fossem fator de tensões. A animosidade em relação à Receita vinha de longe.
Nos Estados Unidos, a hostilidade virou onda. Nos últimos dias, a Presidência da República foi informada de um movimento na delegação, para que não houvesse a ida a Brasília e o recebimento das medalhas do mérito esportivo, caso não fosse dado trânsito livre a toda a delegação na alfândega.
Pânico no Planalto. Com sua inigualável capacidade de avaliar pela contramão as tendências e aspirações da opinião pública, os assessores palacianos deduziram que seria a ruína do governo. Até hoje não perceberam a fome pública de moralidade e a ira generalizada contra os privilégios. Tratativas urgentes pra lá e pra cá, acontece a primeira abordagem a Osiris Filho. Com finalidade óbvia, embora posta sutilmente, e a resposta merecida: "Bagagens de mão e malas pessoais serão liberadas na hora. O restante entregamos no dia seguinte, depois das formalidades da fiscalização".
Daí por diante, já se sabe como o governo combateu a sonegação e defendeu a moralidade. Empenho que tem continuidade com a sindicância determinada pelo ministro Ricupero e por ele entregue a um subordinado seu, cuja missão deveria examinar a participação, no episódio, dos ministros Henrique Hargreaves e Rubens Ricupero.
Para tranquilidade do país, o ministro da Fazenda assegura que os direitos alfandegários serão cobrados e pagos. Sobre o quê, não disse. Porque inexiste qualquer registro das 14 toneladas de carga. A história de descobri-lo pelos "conhecimentos de embarque" da Varig é tapeadora: a Varig pode levantar, no máximo, a quantidade de volumes e o seu peso.

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