São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994
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'Postura diante do sexo está mudando'

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Dez anos atrás, quando beijava a namorada em público, o psicólogo Fabiano Puhlmann, 29, percebia olhares reprovadores. Agora já não provoca tanto espanto, mesmo quando vai de cadeira de rodas a um motel.
Puhlmann ficou tetraplégico ao mergulhar em uma piscina 12 anos atrás. Hoje é especialista em reabilitação e sexualidade humana.
"A postura da sociedade e do deficiente físico diante do sexo está mudando", diz. Um preconceito ainda arraigado faz acreditar que o deficiente é assexuado, ou que não tem direito a este prazer.
Nos EUA, muita gente mudou de idéia quando viu Ellen Stohl nua na revista "Playboy", em 87. Ellen era uma jovem modelo e ficou tetraplégica ao sofrer um acidente de carro aos 18 anos.
Apareceu na revista insinuante e ao lado da cadeira de rodas. "Eu queria mostrar que um deficiente físico não perde a sexualidade."
"A sexualidade do deficiente ainda incomoda as pessoas, diz Edison Luis Passafaro, 33, presidente do CVI, Centro de Vida Independente de São Paulo. Passafaro anda em cadeira de rodas há 14 anos e já foi casado três vezes, sem contar a atual namorada.
Outros fatos estão mudando o preconceito diante da sexualidade do deficiente. O Instituto H. Ellis, que trabalha com sexualidade e fertilidade em São Paulo, faze um trabalho voltado especialmente para as vítimas de lesão medular.
Um grupo interdisciplinar ajuda o paciente a redescobrir e sentir prazer, mesmo nas partes do corpo que perderam a sensibilidade. "Ele passa a vestir o corpo de novo", diz Puhlmann, que faz parte do grupo como psicólogo.
A medicina também está ajudando. A grande maioria dos paraplégicos e tetraplégicos chega ao orgasmo, mas uma parte não consegue ejacular.
A cirurgia e o acompanhamento psicológico estão resolvendo a maioria destes problemas. Aqueles que não conseguem ejacular e desejam ter filhos são ajudados com técnicas de reprodução assistida.
As mulheres deficientes não têm maiores problemas na gravidez, desde que tenham acompanhamento médico. O Hospital Pérola Byington, de São Paulo, está criando um serviço dedicado à mulher paraplégica.

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