São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994
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Tetraplégico volta ao trabalho

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

No início de agosto, o tetraplégico Marco Antonio Ferreira Pellegrini, 30, reassumirá o cargo de analista de sistema de comunicações que ocupou no Metrô de São Paulo até 1991. Será o primeiro deficiente grave a ser reintegrado ao trabalho.
Três anos atrás, ao chegar em casa comemorando o primeiro dia de férias, Pellegrini foi atingido por um tiro na nuca disparado por assaltantes.
A bala acertou a quarta vértebra cervical e o deixou completamente paralisado. Não mexe pernas, nem braços, apenas movimenta o pescoço.
É nesta condição que Pellegrini retorna ao trabalho depois de três anos. Sua sala, no sexto andar da rua Luiz Coelho, região da Paulista, está sendo preparada para recebê-lo.
A mesa foi rebaixada, um telefone especial será preso a seu corpo e o terminal de computador está sendo adaptado pela IBM. Pellegrini vai acessá-lo através de uma placa de voz ou por uma haste que movimenta com a boca.
Um virador de páginas, que pode ser acionado com sopro ou com o movimento de sobrancelhas, mudará as páginas dos documentos.
Pellegrini desempenhará o mesmo trabalho de antes, só não participará dos testes na linha do metrô como fazia."Será o primeiro deficiente severo a ser reintegrado na empresa", diz Leila de Araujo Pardo, coordenadora de Recursos Humanos do Metrô.
"Pellegrini é um caso raro de energia e força de vontade."
O Metrô criou uma equipe multidisciplinar para recebê-lo e aguardará 90 dias antes de informar ao INSS que o funcionário retornou ao trabalho.
Pellegrini é também o primeiro participante de um programa de "emprego apoiado", uma prática adotada por muitas empresas da Europa e EUA. Para movimentar-se, ele conta com uma cadeira motorizada importada que dirige com o queixo.
Para chegar ao trabalho, no entanto, Pellegrini terá de contar com um motorista particular. Os ônibus que ligam Interlagos, onde mora, à Paulista, ainda não foram adaptados para deficientes.
(AB)

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