São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994
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Curso ensina autistas a cozinhar

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Marcos e Jeferson têm 7 anos e aprenderam a ler sozinhos quando tinham 3. Hoje estão aprendendo datilografia para utilizar um terminal de computador.
Os dois são alunos da Naama, Núcleo de Aprendizado da Associação de Amigos do Autista. Como eles, outras 25 crianças e adolescentes autistas vêm dos mais diferentes pontos da cidade para receber aulas especiais.
A Naama já existe há 11 anos. Utiliza técnicas de ensino desenvolvidas na Universidade da Carolina do Norte. No início deste ano, os professores festejaram um feito. Os alunos estão conseguindo preparar receitas na cozinha da escola .
Sabem preparar quibes, gelatina e bolos de chocolate. A grande maioria deles não é alfabetizada. Estão aprendendo com referências. Por exemplo, a professora mostra o desenho de um pote de farinha com duas colheres. Eles entendem que devem colocar duas colheres de farinha.
"Especialistas da Suécia vieram conhecer nossa experiência", diz Ana Maria Mello, diretora do Naama.
O autismo é um distúrbio do comportamento ainda pouco conhecido. Até uma década atrás não era sequer diagnosticado. Ainda hoje, muitas de suas vítimas são confundidas com crianças excepcionais ou mal-educadas.
Elas se fecham em mundos ainda desconhecidos, o que dificulta muito o tratamento. Várias entidades trabalham com autistas ou pesquisam o autismo em São Paulo.
Alguns autistas nascem com um tipo de inteligência acima da média, mas são incapazes de relacionar-se no dia-a-dia. Outros não conseguem sequer ser alfabetizados.
Só em São Paulo existiriam 5.000 autistas, crianças e adultos. Não existem classes especiais para eles nas escolas públicas.
Nas cidades do interior do país, os autistas são atendidos pelas Apaes, associações de pais e amigos do excepcional. As Apaes são um dos modelos mais bem sucedidos de ajuda ao deficiente mental. Existem em mais de 1.300 cidades. Os próprios pais se organizam, procuram apoio e informações. São as Apaes que reúnem as vítimas da Síndrome de Down.
(AB)

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