São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994
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'Marido solteiro' apaga vestígios da farra

ALESSANDRA BLANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quase um mês depois, esta é a última semana do "mariposa": marido que aproveitou as férias da mulher para "voar" pela noite. Agora, só há tempo para colocar a casa em ordem e acabar com os vestígios das farras.
Os últimos dias ele vai gastar tirando as manchas de batom das camisas, o cheiro de perfume do paletó e tentando achar algum preservativo perdido no quarto.
Vale até dar presente ou gorjeta para o porteiro do prédio ou para a empregada para evitar comentários indesejados.
Na noite de quinta-feira, a boate Kremlin, em Pinheiros (zona oeste), estava cheia de frequentadores "JJ" –janeiro e julho, meses de férias da mulher e dos filhos.
Tanto que às 2h foi preciso fechar as portas para os homens, que lotavam o local, e deixar a entrada livre só para mulheres e casais.
O empresário Fernando, 46, que não quis dar o sobrenome, estava na boate tentando "azarar uma mulher mais nova e bonita".
"Toda vez que minha mulher vai viajar, aproveito para sair e beber um pouco. Às vezes acaba rolando algo mais", diz.
Se a mulher telefonar, Fernando diz que estava trabalhando. Quanto à empregada, "ela não vai abrir a boca porque valoriza o emprego".
A única proibição é levar outra mulher para casa. "Minha cama é sagrada, só faço alguma coisa se for em uma cama redonda", disse.
Às 2h da sexta-feira, o empresário não estava muito preocupado em arrumar desculpas para sua mulher que está na fazenda com as crianças e volta quarta-feira.
"Só vim me divertir e dançar um pouco, mas no fim-de-semana fico em casa."
Já um bancário, que também não quis se identificar, estava com os amigos na mesma boate. No fim da noite dava dicas para os amigos de como despistar indícios de contatos com outras mulheres.
"As manchas de batom da camisa são tiradas com álcool. Tem gente que anda com vidrinhos de álcool no carro ou, como a mulher está viajando, leva outra camisa e troca para não dar bandeira."
O cheiro de perfume não é problema, diz, "basta dar umas baforadas com cigarro no paletó".
Quando a mulher liga no horário em que o "mariposa" está voando, o segredo é dizer que estava dormindo e não ouviu o telefone.
O advogado Luís diz que o difícil é quando a mulher volta. "Elas querem saber tudo: onde você estava, o que foi fazer, com quem estava, a que horas chegou. Aí tem que recorrer aos amigos e arrumar boas desculpas."
Luís diz que nunca levou nenhuma mulher para casa. "Se um dia acontecer, é só ficar ligado se ela levou todas as suas coisas antes de ir embora e depois dar uma arrumada geral na casa."
Já J.C.S., 37, gerente de banco, conta que sai com o consentimento da mulher. "Só quero beber com os amigos e dançar um pouco."
Segundo a bancária Janete, 40, que também se divertia na Kremlin na última quinta-feira, é fácil reconhecer um "mariposa".
"Geralmente, eles ficam deslocados, usam camisa listrada tradicional ou terno e gravata. São carecas e têm barriga exagerada. Ficam com o copo de bebida na mão olhando horas até se aproximar."
Só se aproximam quando a bebida já fez relaxar. Nesta hora, não sabem o que dizer e a primeira frase é "Você vem sempre aqui?"
Logo depois vem o "você é muito bonita" e até um "estou apaixonado" porque, afinal, a chance de sair acompanhado de lá é única e não se pode perder.

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