São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cresce uso de dinheiro vivo no comércio de SP

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

O comércio que trabalha com mercadorias de baixo valor –de peças do vestuário a artigos de perfumaria e mercearia– registra aumento no uso de dinheiro vivo –cédulas e moedas.
Nesta primeira quinzena do mês e do real, grandes redes até reforçaram a segurança das lojas por conta do crescimento do volume de dinheiro que mantêm. Elas não querem ser citadas.
No departamento de perfumaria do Mappin, 50% do pagamento dos produtos já é feito em dinheiro vivo. Antes do real, esse percentual não passava de 30%.
"Esse fenômeno é ainda incipiente. Mas não há dúvida de que a tendência é a de aumentar o uso do dinheiro em espécie", afirma Marcos Gouvêa de Souza, consultor especialista em varejo.
"Já estamos percebendo que o consumidor está carregando mais notas e moedas no bolso."
Para ele, cartão de crédito, cheque pré-datado e crediário concorrem com o dinheiro em espécie.
Na sua análise, essas três modalidades são mais usadas no pagamento de produtos de maior valor: eletroeletrônicos, roupas caras etc.
"O fato é que a nota e a moeda têm agora muito mais valor. Por isso o dinheiro que o consumidor carrega no bolso compra mais mercadorias", diz Sérgio Orciuolo, diretor do Mappin.
Ele conta que os artigos que custam até R$ 10 já são frequentemente pagos com dinheiro. São especialmente aqueles que compõem as linhas de perfumaria, papelaria e mercearia.
"Na época do cruzeiro real até mesmo esses artigos eram pagos com cheques. O consumidor não tinha o hábito de carregar mais de CR$ 15 mil na carteira."
Uma grande rede com 68 lojas especializada em produtos de baixo valor informa que 97% do pagamento dos produtos está sendo feito "in cash".
Boa parte dos artigos comercializados nesta rede custa de R$ 0,10 a R$ 2,00. São chocolates, lâmpadas e produtos de higiene e beleza.
Para a diretoria da empresa, o fato de os preços serem expressos em centavos cria efeito psicológico de que as mercadorias são baratas. Por essa razão o dinheiro vivo está sendo mais usado.
Na rede de lojas Marisa, as lingeries, com preços que variam de R$ 1,80 a R$ 12,90, são pagas com dinheiro em espécie.
"Até o final do mês passado, recebíamos muitos cheques na venda desses artigos", conta Carlos Porto, diretor.
Na X-Ray, o consumidor já compra calça, malha de lã, camisa e camiseta, com duas notas de R$ 10. Cada um destes produtos custa menos de R$ 20.
Para Wilson Tanaka, presidente do Sincovaga (Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios no Estado de São Paulo), o real em espécie vai, em breve, ser muito mais usado do que foi o cruzeiro real, especialmente nas compras do dia-a-dia.
"Quando o consumidor comprava uma lata de óleo no começo do mês, precisava, no final do mês, desembolsar 30% mais para comprar o mesmo produto. Isso já não ocorre mais."
Segundo ele, o que diminui o impacto no aumento do uso de dinheiro vivo é a falta de troco, a volta do uso do cartão de crédito e do cheque pré-datado.
"O próprio comerciante pede cheque para o cliente quando não tem troco". Frederico Luz, diretor das Lojas Americanas, confirma.
"Mais para frente é que vamos ter números exatos de quanto cresceu o uso do real em espécie sobre o cruzeiro real."
Segundo Tanaka, 12 mil dos 13 mil pontos-de-venda que o Sincovaga representa recebem dinheiro em espécie dos clientes. Já era quase isso na época do cruzeiro real.
Ele aposta que o poder de compra do real vai resultar em aumento de 10% no consumo em agosto, na comparação com julho.
Uma outra grande rede de loja que trabalha com artigos populares aposta que, com o real, o faturamento da empresa deve crescer 25% de agosto a dezembro, na comparação com igual período de 1993.

Texto Anterior: Dr. Osires e o futebol
Próximo Texto: Consultas ao Telecheque caem 21,5%
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.